A última paixão de Fernando Pessoa não foi Ofélia, foi uma inglesa loira
No último ano de vida, Fernando Pessoa escreveu uma série de poemas sobre uma mulher misteriosa que lhe roubou o coração. O mais recente número da "Pessoa Plural" desvendou finalmente o mistério.
Fernando Pessoa conheceu Ofélia Queiroz em janeiro de 1920, numa das casas comerciais onde costumava colaborar. Tinha 32 anos, ela apenas 19. A primeira carta que lhe escreveu, datada de 1 de março desse ano, foi a primeira de muitas que testemunham o “namoro simples, até certo ponto igual ao de toda gente”, que durou até finais de 1920. Publicadas pela primeira vez em 1978 num só volume, as cartas surpreenderam “sobretudo ao revelar um Fernando Pessoa apaixonado como um adolescente”, como escreveu António Quadros. Eram de tal forma “ridículas” — como todas as cartas de amor têm de ser —, que levaram Carlos Queiroz, sobrinho de Ofélia que privou com Pessoa, a questionar: “Como teria sido possível ao mais poeta dos homens e ao mais intelectual dos poetas portugueses (e, aqui, a palavra ‘portugueses’ tem uma importância muito especial) libertar a tal ponto o coração de literatura?!”.
O fim daquela que é conhecida como a primeira fase do namoro entre Pessoa e Ofélia deu-se em novembro de 1920, sobretudo pela repugnância que o poeta sentia em integrar-se na família da namorada. Como ela própria contou mais tarde, durante os sete ou oito meses que durou o namoro, Fernando Pessoa nunca foi a sua casa. De acordo com José Gil, o namoro entre Pessoa e Ofélia revelou a incapacidade ou impossibilidade de o poeta “‘amar Ofélia à maneira de Ofélia’, de aceitar a máscara correspondente a um homem ‘comum, casado e tributável’”. “A aceitação desta máscara teria obrigado Pessoa – na opinião de Eduardo Lourenço – a matar ‘o monstro sublime da nossa imaginação que nós chamamos Literatura’”, escreveram os pessoanos Jerónimo Pizarro, Patricio Ferrari e Antonio Cardiello, no quarto número da Pessoa Plural.
Nove anos depois, em princípios de setembro de 1929, o namoro recomeçou, depois de Carlos Queiroz ter levado para casa um retrato de Pessoa a beber um copo no Abel Pereira da Fonseca. Ofélia achou-lhe graça e, passados uns tempos, Pessoa enviou-lhe uma cópia autografada com a frase que depois se tornou famosa: “Fernando Pessoa em flagrante ‘delitro’”. Esta segunda fase durou cerca de quatro meses — as cartas cessaram a 11 de janeiro de 1930. Terminava assim a história de amor entre Fernando Pessoa e Ofélia Queiroz que, por se desconhecerem outras aventuras amorosas, costuma ser apontada como a única na vida do poeta. De tal forma que, em 1978, David Mourão-Ferreira, um dos responsáveis pela primeira edição das cartas de amor do poeta, afirmou categoricamente que não se conhecia nem era provável que tivesse existido qualquer outro “episódio sentimental” na vida de Pessoa. Mas será que foi mesmo assim?
Fernando Pessoa sempre foi conhecido como um homem reservado. Apesar da dimensão da sua obra, conhece-se melhor a sua literatura do que a sua vida. E isso sempre deu aso a especulações (algumas delas infundadas). Exemplo disso é um grupo de poemas que se refere a uma mulher “loura” e “casada”, o que levou a que alguns estudiosos tentassem descobrir a identidade desta mulher que Pessoa terá amado. Um dos primeiros terá sido o poeta e ensaísta espanhol Ángel Crespo, cujas pesquisas acabaram por não dar em nada. Um dos rumores lançados pelo espanhol, o de que Pessoa se teria apaixonado por Fernanda de Castro, mulher de António Ferro, até foi desmentido pela própria. Nas suas memórias, a poetisa considerou-o “absurdo” e descreveu o poeta como “calado, ensimesmado, de uma timidez que chegava a incomodar-nos”. Mas, de acordo com Manuela Nogueira, sobrinha de Fernando Pessoa, o tio sempre sentiu “grande admiração” por Fernanda de Castro.
A pesquisa, iniciada por Crespo, foi depois continuada por José Blanco, que ponderou a hipótese de a mulher misteriosa se tratar da mulher do advogado José de Andrade Neves, filho do primo e médico de Pessoa, Jaime de Andrade Neves. Quando Titita — como era conhecida entre os amigos — se casou com José, Fernando Pessoa não compareceu à cerimónia e enviou apenas um cartão. “Ciúmes talvez”, especulou Blanco que, durante as suas investigações, descobriu que, quando os dois foram apresentados, Pessoa disse a Titita que era “o bêbedo da família”. Apesar da estranha apresentação, os dois acabaram próximos. De tal forma que, quando a mulher do primo ficava doente, Fernando Pessoa ficava sentado à sua cabeceira, lendo-lhe livros. Segundo conta José Paulo Cavalcanti na sua biografia do autor da Mensagem, José Blanco conheceu Titita quando esta já tinha os cabelos brancos e perguntou-lhe se, quando era jovem, era loira. “Não. Os cabelos de Titita, como também os da sogra Georgina Cardoso, eram escuros”, escreveu o advogado brasileiro, lamentando-se que agora, também ele, anda à procura da “loura” por quem Fernando Pessoa se apaixonou.
Loiras à parte, a verdade é que a escrita de poemas de amor se intensificou no final da vida de Fernando Pessoa. Em 1935, ano da sua morte, o poeta produziu um número invulgar de versos apaixonados, o que faz levantar a hipótese de que, quando morreu, Pessoa estava apaixonado. Mas quem seria o alvo desta paixão tardia? José Barreto, historiador que se tem interessado sobretudo pelo pensamento filosófico e político de Pessoa, descobriu, por mero acaso, cartas inéditas que parecem ajudar a desvendar o mistério. O resultado da sua pesquisa, “A última paixão de Fernando Pessoa”, foi publicado no último número da Pessoa Plural – A Journal of Fernando Pessoa Studies, uma revista online de Estudos Pessoanos co-editada pela Universidad de los Andes, pela Warwick University e pela Brown University, onde existe um importante núcleo de Estudos Portugueses. Apesar deste último número ser dedicado à Coleção Fernando Távora, uma das mais importantes sobre o modernismo português, e incluir vários manuscritos inéditos — nomeadamente de poesia e correspondência de Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro, Raul Leal, Alfredo Guisado e José Régio, entre outros —, o contributo de José Barreto é um dos mais surpreendentes. É que, afinal, o último grande amor de Fernando Pessoa não foi Ofélia. Foi uma inglesa de cabelo “alourado” chamada Margaret.
A última paixão de Fernando Pessoa
No livro Fernando Pessoa, uma quase autobiografia, José Paulo Cavalcanti relatou que um dos sobrinhos de Fernando Pessoa lhe contou que o tio teria tido uma “relação misteriosa” com uma inglesa chamada Madge. “Ao que consta, teria havido uma certa simpatia recíproca”, admitiu João Maria Nogueira ao biógrafo brasileiro. “Mulher muito inteligente, consta que durante a última Guerra Mundial trabalhava na descodificação de mensagens cifradas dos alemães. Era muito culta mas tinha um ‘feitio’ algo complicado. Talvez por isso tivesse interessado ao meu tio Fernando.”
Não foi a primeira vez que o nome de Margaret Anderson — conhecida apenas por Madge entre os familiares e amigos mais próximos — veio à baila. Antes da publicação da biografia de Cavalcanti, em 2002, Manuela Nogueira já se tinha referido “vagamente a Madge” nas Cartas de amor de Ofélia a Fernando Pessoa, “identificando-a como ‘a inglesa’ de quem Ofélia falava numa das suas cartas para Pessoa”, refere José Barreto neste número da Pessoa Plural. Na altura, a hipótese não passava disso mesmo — de uma hipótese —, dada a falta de provas mais concretas. Além do mais, o sobrinho de Pessoa tinha garantido a Cavalcanti que a inglesa tinha “o cabelo castanho alourado”, não se podendo tratar, por isso, da “loura” de que Pessoa falava nos seus poemas. Só recentemente é que foi possível unir as pontas soltas e ligar definitivamente Madge a Fernando Pessoa. Tudo graças à descoberta de dois rascunhos de cartas, ainda na posse da família do poeta, e de uma terceira missiva guardada na Biblioteca Nacional de Portugal (BNP), em Lisboa.
“A rapariga inglesa, tão loura, tão jovem, tão boa
Que queria casar comigo…
Que pena eu não ter casado com ela…
Teria sido feliz
Mas como é que eu sei se teria sido feliz?
Como é que eu sei qualquer coisa a respeito do que teria sido Do que teria sido, que é o que nunca foi?”— Excerto de um poema datado de junho de 1930, atribuído a Álvaro de Campos
Curiosamente, a descoberta não coube a nenhum especialista em literatura, mas a um historiador. “Não sou um homem das literaturas nem nada disso”, admitiu José Barreto em conversa com o Observador. Mas quis o destino que fosse o investigador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, especialista em história social e política portuguesa do século XX, a encontrar “umas cartas inéditas” que desvendaram um dos muitos mistérios que pairam em torno de Fernando Pessoa e a fazer uma “pequena digressão” pela vida amorosa do poeta, dando continuidade ao trabalho iniciado por Ángel Crespo e José Blanco, muitos anos antes.
Ángel Crespo foi um escritor, poeta e ensaísta espanhol “que se dedicou muito a Fernando Pessoa”. No final dos anos 80, publicou a biografia A Vida Plural de Fernando Pessoa, a primeira sobre o poeta escrita fora de Portugal. Foi mais ou menos nessa altura que “formulou uma hipótese que até então nenhum português tinha formulado, a partir dos poemas dos últimos anos de vida, sobretudo de 1935 — que Fernando Pessoa, sobre o qual já se dizia que a vida amorosa se reduzia a uma única história, a história de Ofélia Queiroz, morreu apaixonado”, explicou o o investigador, autor de Fernando Pessoa —Associações Secretas e Outros Escritos. Só que, apesar das inúmeras tentativas, Crespo não conseguiu identificar “o alvo da paixão”. “Depois dele, seguiram-se mais uns tantos, nomeadamente José Blanco, que nunca chegaram a resultado nenhum. Nunca conseguiram dados plausíveis sobre quem seria essa mulher casada, essa mulher loira.”
Mas José Barreto teve mais sorte. “Com base nestas três cartas inéditas que encontrei — uma encontra-se no espólio de Fernando Pessoa na Biblioteca Nacional e as outras duas no espólio que está na posse da família —, formulo uma hipótese de identificação.” Segundo Barreto, essa “mulher inglesa” seria nada mais nada menos do que a irmã de uma das cunhadas de Pessoa, Eileen Anderson, casada com o irmão mais novo do poeta, João Maria Nogueira Rosa, um bancário que vivia em Londres. Entre 1929 — quando já estava em vias de se divorciar do marido inglês — e meados de 1935, Madge fez “um número indeterminado” de viagens a Portugal. “Não consegui apurar se ela só veio duas vezes a Portugal ou se, entre essas duas datas, veio mais vezes”, admitiu o investigador. “Parece que sim, pelo que o sobrinho e sobrinha de Pessoa, ainda vivos, deram a entender, mas não encontrei provas. Baseei-me apenas em provas documentais. Não pretendi dar asas à imaginação. A minha investigação foi feita com base na correspondência e não me interessa mais do que isso.” O que é certo é que, algures nesse período, os dois começaram uma troca de correspondência que durou até à morte de Pessoa, no final de novembro de 1935. Pelo meio, o poeta escreveu dezenas de poemas de amor.
"Ángel Crespo formulou uma hipótese que até então nenhum português tinha formulado — que Fernando Pessoa, sobre o qual já se dizia que a vida amorosa se reduzia a uma única história, a história de Ofélia Queiroz, morreu apaixonado."
Mas quem era esta Madge Anderson?
Margaret Mary Moncrieff Anderson nasceu a 7 de setembro de 1904, em Cathcart, nos subúrbios de Glasgow, no seio de uma família irlando-escocesa “com plaid” e “muito conservadora”, de acordo com Isabel Murteira França, sobrinha-neta de Fernando Pessoa e sua biógrafa, que José Barreto cita no seu artigo. A sua irmã, Eileen, era três anos mais velha. Depois de completar uma licenciatura geral de três anos na University of St. Andrews, na Escócia, começou a trabalhar no Foreign Office, em Londres, tendo sido nomeada junior assistant desse mesmo ministério apenas três anos depois, em 1929. Aos 35 anos, depois de um casamento falhado com um jovem inglês, casou-se novamente com Frederick William Winterbotham, responsável por chefiar a Air Section do Secret Intelligent Service (SIS), de 1929 a 1945.
Foi mais ou menos nessa mesma altura que, segundo conseguiu apurar José Barreto, foi admitida em Bletchley Park (também conhecido como Station X), nos arredores de Londres, onde funcionou, durante a Segunda Guerra Mundial a Cypher School, onde eram decifrados os complexos códigos alemães. Meses depois, foi transferida para a sede do SIS, em Londres. Isto significa que o boato que circulava na família era mesmo verdade — Madge trabalhou mesmo na descodificação de mensagens alemãs durante a guerra. Depois do final do conflito, continuou vinculada ao Foreign Office. O seu casamento, contudo, terminou em 1946 e não existem indícios de que tenha tido filhos. Morreu a 3 de julho de 1988, aos 83 anos. “Ou seja, semanas depois do centenário do nascimento de Fernando Pessoa”, frisou José Barreto.
O historiador acredita que a troca de correspondência com Fernando Pessoa começou no verão de 1935, depois de o poeta ter recebido um “enigmático postal ilustrado inglês” assinado por Madge. Ou melhor, “aparentemente” assinado por Madge. É que, apesar de o nome da inglesa aparecer no final da mensagem, escrita em inglês, a caligrafia não corresponde à sua. O postal sem data, nome ou endereço do destinatário, “foi aparentemente enviado de Inglaterra dentro de um envelope e o destinatário terá sido, muito provavelmente, Pessoa, uma vez que se encontra no seu espólio. A caligrafia poderá eventualmente ser de Eileen”, avançou o historiador. Depois disso, sabe-se que foram trocadas, pelo menos, duas cartas “em cada sentido”.
A primeira carta que se conhece (o seu rascunho encontra-se com a família do poeta) foi enviada por Pessoa, no verão ou princípio do outubro de 1935. Nessa missiva, o autor da Mensagem pede desculpa a Madge pelo seu “desaparecimento” durante a sua estadia em Lisboa, em abril ou maio, justificando-se com uma crise depressiva. “Esta minha carta será simplesmente um pedido de desculpas. Chegaste aqui quando eu estava a afundar-me e por cá ficaste até eu me ter afundado”, escreveu Fernando Pessoa. “Desde então, já voltei à superfície, mas teria dificuldade em dizer que superfície se trata. Lamento muito tudo o que se passou, isto é, a minha descortesia em ter desaparecido, mas não perdeste nada com o meu desaparecimento, que foi a melhor ação que alguns resquícios de decência poderiam ditar a um homem praticamente perdido para tudo isso.”
Não se sabe qual foi a resposta de Madge a esta carta. “Sabemos, porém, que ela realmente respondeu com uma ‘carta simpaticamente agressiva’, como Pessoa lhe chama em nova missiva sua, datada de 9 de outubro de 1935”, escreveu José Barreto. Esta mensagem — também ela um rascunho em posse da família — é a última que se conhece escrita pelo poeta à sua paixão inglesa. Até à publicação do artigo de Barreto, esta ainda não tinha sido identificada como sendo para Madge Anderson porque não inclui nenhuma referência ao destinatário.
Madge demorou várias semanas a responder a Pessoa. A sua resposta, datada de 14 de novembro, encontra-se no espólio pessoano da BNP e já era conhecida de alguns investigadores. Contudo, nunca tinha sido publicada, talvez por “ser muito difícil de ler”. “Escapou aos chamados salteadores da arca perdida”, brincou José Barreto. Nessa carta, a última que Madge escreveu a Fernando Pessoa, a inglesa diz que “adoraria estar novamente de partida em visita” a todos em Portugal. “Escreve-me outro pequeno poema em breve e ensina-me a levantar o ânimo, tal como eu tentei fazer contigo!”, disse, referindo-se ao poema “D.T.”, que Pessoa anexou à sua última carta. Mas isso nunca viria a acontecer. Fernando Pessoa morreu poucas semanas depois, no Hospital de S. Luís dos Franceses, em Lisboa. José Barreto não encontrou indícios de que, depois disso, Madge Anderson tenha voltado a Portugal, como tanto ansiava.
“Não, nada é certo.
O teu amor poderia
Tornar-se melhor do que eu
Posso ser ou tentar.
Mas nunca poderemos saber —
Querida, eu não posso saber
Se o açúcar do teu coração
Não se tornaria rebuçado…
Deixo, pois, o coração doer
E bebo aguardente.”— Excerto do poema “D.T.” (abreviatura de Delirium Tremens), traduzido por José Barreto, com colaboração de Ricardo Vasconcelos
Se as cartas não forem suficientes para convencer os mais céticos, ainda existem os poemas de amor, alguns deles reunidos por José Barreto em “A Última Paixão de Fernando Pessoa”. “Uma coisa que eu digo neste artigo é que Fernando Pessoa era uma pessoa extremamente reservada”, afirmou o historiador ao Observador. “Conhecia muita gente, mas amigos íntimos tinha muito poucos. Portanto, a vida privada era uma coisa sagrada para ele. Ninguém sabia onde morava, etc. Preservava muito a sua intimidade e a sua vida pessoal. É preciso notar que 90% da poesia que ele escrevia era para a arca, não era para publicar. Nessa poesia, ele abre-se mais em relação à sua vida afetiva”, como fez em “D.T.”, um poema “alcoólico ou pós-alcoólico” que descreve “sucintamente a encruzilhada psicológica do autor, posto perante a escolha entre o alcoolismo e o amor, optando afinal pelo brandy, embora saiba que lhe matará a alma”. Contudo, é sempre preciso ter “um cuidado extremo” porque Pessoa tinha jeito para disfarçar. “Introduz dados que, de certo modo, fantasiam um pouco. Esconde aqui, esconde acolá. Nunca é completamente claro e aberto e há que ter isso em conta”, disse José Barreto, salientando, porém, que “são tantas as provas na poesia que escreveu em português, inglês e até em francês nesse ano” que é difícil ignorar.
“De facto, a hipótese do Ángel Crespo era muito sólida”, admitiu. “Parti desse princípio. Em 1978, quando foi editado pela primeira vez o conjunto de cartas de amor de Fernando Pessoa a Ofélia, David Mourão-Ferreira disse no prefácio que, tanto quanto se sabia, era o único episódio sentimental da vida de Pessoa e que era improvável que houvesse outra história. Nunca acreditei nisso. De facto, a poesia de amor não é muito abundante, mas há muita coisa que não encaixa na história da Ofélia.” Mas, ainda assim, a interpretação de Barreto não deixa de ser apenas uma sugestão e o investigador faz questão de deixar isso bem claro: “Não posso provar [que Pessoa estava realmente apaixonado por Madge], nem provavelmente alguém poderá. É uma hipótese que tem base, que tem fundamento e que é preciso considerar”.
“Quando foi editado o conjunto de cartas de amor de Fernando Pessoa a Ofélia, David Mourão-Ferreira disse que, tanto quanto se sabia, era o único episódio sentimental da vida de Pessoa e que era improvável que houvesse outra história. Nunca acreditei nisso.”
José Barreto acredita que ”a investigação ainda não está completa” e que ainda é possível acrescentar novos pormenores à história. “Ainda está em curso, digamos assim”, afirmou. Madge “foi uma mulher que, aparentemente, não deixou descendência e, portanto, deve ter guardado as cartas de Fernando Pessoa” que não chegaram até nós e que Barreto acredita que ainda podem vir a aparecer, permitindo saber um pouco mais sobre a relação, algo misteriosa, da inglesa com o poeta português. “Também não consegui uma fotografia de Madge Anderson e com certeza que haverá. Se ela não teve filhos, poderá ter tido sobrinhos e é natural que existam fotografias na posse de alguém.” Por essa razão, o investigador pretende, num futuro próximo, publicar o artigo em Inglaterra, o que pode permitir a recolha de mais informações. A tradução já está a ser finalizada. Só resta encontrar um sítio para o publicar.
O último poema de Fernando Pessoa?
Poderá ter sido com Madge em mente que Fernando Pessoa escreveu, a 22 de novembro de 1935, o poema “The happy sun is shinning” (em português “O sol feliz brilha”). O texto em inglês não é inédito — foi publicado pela primeira vez por Ángel Crespo, em 1989, e depois incluído na edição de poesia inglesa editada pela Assírio & Alvim em 2000 (com organização de Luísa Freire) e na edição de 2016, da mesma editora, organizada por Richard Zenith. Mas sempre com erros ou omissões, que José Barreto corrigiu para este número da Pessoa Plural. Os versos, como explicou o investigador, são dirigidos “a uma amada ausente ‘faraway’, por quem o coração do poeta anseia”. “Reforça o tom realístico desse poema a circunstância de se somar a outros, de temas afins, quiçá de ‘sinceridade’ variável, escritos no mesmo ano”, escreveu o historiador no artigo “A última paixão de Fernando Pessoa”.
A escrita de “The happy sun is shinning” coincide com a chegada à caixa de correio de Pessoa da última carta de Madge, datada de 14 de novembro, dia das eleições parlamentares em Inglaterra, às quais a inglesa se refere na missiva. Partindo do princípio que Madge enviou a carta no dia em que a escreveu, esta terá chegado a Portugal a 20 ou 21 de novembro, supõe o investigador. Fernando Pessoa foi internado a 26 desse mês, no Hospital de S. Luís dos Franceses, tendo morrido poucos dias depois, a 30 de novembro de 1935. Ao Observador, José Barreto explicou que “Pessoa datava [sempre] os poemas”. “Ele escreveu dezenas de milhares de poemas e 99% estão datados. Muitas vezes não datava os outros textos, em prosa, mas a poesia datava sempre. Este está datado de 22 de novembro, uma semana antes de morrer, e não há nenhum poema que se conheça — a obra poética foi toda estudada — com uma data a seguir.” Isto significa que “The happy sun is shinning” é, “muito possivelmente, o último poema que Pessoa escreveu em qualquer língua”. Não há nenhum no seu espólio com uma data posterior.
“O sol feliz brilha
Os campos estão verdes e alegres
Mas o meu pobre coração anseia
Por algo que está longe.
Anseia só por ti,
Anseia pelo teu beijo
Não importa se és fiel
A isto.
O que importa és só tu.”— Excerto de “The happy sun is shinning”. A tradução do inglês,”tanto quanto possível literal”, é de José Barreto, com colaboração de Ricardo Vasconcelos
Mas o que impressiona em “The happy sun is shinning” é o tom apaixonado com que Pessoa fala da mulher amada, a única coisa que “importa”. “É claramente um poema apaixonado”, salientou José Barreto. “Como eu digo no artigo, estes não são sentimentos que se fantasiem, que se inventem.” Além do mais, é “raríssimo” encontrar versos deste tipo “na obra de um poeta como Pessoa”. “A poesia amorosa, na primeira pessoa, não é vulgar, mas é ainda mais raro um poema em que tão claramente manifesta a sua paixão. Foi isto que levou o Ángel Crespo a dizer que era evidente que Fernando Pessoa estava apaixonado.” Porque, apesar de Pessoa ser geralmente descrito como um poeta racional, não quer dizer que não fosse capaz de se apaixonar perdidamente por alguém.
De acordo com José Barreto, existem passagens nos fragmentos dos diários que Pessoa escreveu por volta dos 20 anos que falam de questões amorosas e do “conflito entre o amor e a obra”, que sempre o preocupou e que acabou por ditar o final do relacionamento com Ofélia Queiroz: “O meu destino pertence a outra Lei, de cuja existência a Ofelinha nem sabe, e está subordinado cada vez mais à obediência a Mestres que não permitem nem perdoam. Não é necessário que compreenda isto. Basta que me conserve com carinho na sua lembrança, como eu, inalteravelmente, a conservarei na minha”, escreveu o poeta a jovem, a 29 de novembro de 1920, quando terminou a primeira fase do namoro. “Ele achava, desde muito jovem, que tinha uma missão como escritor que era relevante”, disse José Barreto. “Tinha uma grande opinião de si próprio e achava que a vida rotineira, igual à dos outros, seria destrutiva para a sua missão, para a sua obra poética. Escreveu sobre esse conflito, o que já é indicativo de que não era um homem desprovido de sentimentos e incapaz de se apaixonar.”
É que apesar de o autor de Mensagem ter “fama de fingidor”, não quer dizer que fosse exatamente assim. “Adolfo Casais Monteiro chamou-lhe o ‘insincero verídico’, que é uma coisa um bocado contraditória”, afirmou o historiador. “Ele alertou que se deve ter muito cuidado quando se interpreta a poesia a partir da vida de Fernando Pessoa ou ao contrário. Mas a poesia não está desligada da vida. Nunca está. E mais: todos os poetas se apaixonam e escrevem poemas amorosos. Pessoa não foi exceção.”
“A poesia não está desligada da vida. Nunca está. E mais: todos os poetas se apaixonam e escrevem poemas amorosos. Pessoa não foi exceção.”
Apesar de “The happy sun is shinning” ter sido o último poema escrito por Pessoa, não é, contudo, o último escrito atribuído ao poeta. Como se sabe — a história é famosa –, antes de morrer, Fernando Pessoa terá escrito num papel as palavras “I know not what tomorrow will bring”. A última frase dita foi, porém, outra. Como relatou João Gaspar Simões na sua biografia do poeta: “Agonizava, e no meio da sua agonia, repuxando a dobra do lençol, teve, de súbito, uma pausa de estranha inquietação. Abriu os olhos, olhou em roda, e vendo que não via, serenamente, como quem não esquece que os míopes, para ver, precisam de óculos, pediu que lhe dessem as suas lentes: ‘Dá-me os óculos’, murmurou, semicerrando os olhos enevoados. Foram estas as suas últimas palavras”.
Um pessoano “absoluto” e “apaixonado”
“A Última Paixão de Fernando Pessoa” é apenas um dos muitos artigos que enchem o número 12 da Pessoa Plural, dedicado à Coleção Fernando Távora. Apesar de ter ficado conhecido sobretudo pelo trabalho de arquiteto, Fernando Távora foi um colecionador ávido, cuja extensa coleção, repleta de preciosidades do modernismo português, já permitiu desenvolver algumas novas leituras, divulgadas nesta edição da revista de Estudos Pessoanos. Nascido a 25 de agosto de 1923, no Porto, “o seu período de formação foi intenso e doloroso”, escreveu o filho, José Bernardo Távora, para a Plural. “As descobertas de Le Corbusier, Picasso e Fernando Pessoa marcaram o seu destino, a sua vida. As leituras, a escrita, as reflexões, as viagens, as coleções, a História ganham durante este período da sua vida uma maior solidez.” Interesses que o acompanharam ao longo da vida, a par do desenho.
Começou a colecionar nos anos 40 — “tudo, tudo aquilo que os outros ainda não colecionavam” —, quando os modernistas ainda eram uma coisa de nicho. Apesar da revista Presença, fundada em 1927 por João Gaspar Simões e Branquinho da Fonseca, ter continuado, depois da morte de Fernando Pessoa, a “disseminar um pouco” a sua imagem, levando a “uma certa consagração no meio literário”, a verdade é que Pessoa e os outros modernistas eram lidos e apreciados num meio “relativamente restrito”. “Ainda havia muita gente que continuava a escrever de costas voltadas para Pessoa, mas havia a nata de intelectuais dessa época — dos anos 40, 50 — que o conhecia, o procurava e o lia”, explicou ao Observador Ricardo Vasconcelos, que colaborou neste número especial da Plural como editor convidado e também como autor. Apesar disso, foi nesta altura que Fernando Távora começou a aprender sobre Fernando Pessoa, o que mostra a perspicácia e sensibilidade do colecionador.
“Vê-se que havia uma sensibilidade estética muito forte”, comentou Ricardo Vasconcelos, que se tem dedicado ao estudo da obra de Mário de Sá-Carneiro. “Havia um apelo às questões estéticas, por ter sido o arquiteto que foi, mas era evidentemente um grande leitor. Não procurava apenas os materiais de alguém que era famoso — começou a pegar num autor que apenas escritores conheciam e a sentir-se fascinado por ele quando era ainda muito jovem.” No texto que escreveu para a Plural, o filho, também arquiteto, conta que o pai “lia muito, à noite, todas as noites”, enquanto ia tirando pequenas notas que hoje podem ser encontradas um pouco por todo o espólio. “Em todos os livros e objetos.” Estas anotações incluem “várias informações — do que é que se trata, onde comprou os materiais, a quem comprou, se há alguma característica específica, se se trata de um achado”. “E depois ainda fazia muitas vezes referência a artigos ou livros que podiam ajudar a compreender aqueles textos”, explicou Vasconcelos. “Quem entrar [na coleção] com um conhecimento mínimo dos Estudos Pessoanos ou Sa-Carneirianos e quiser saber mais, ele deixou uma espécie de introdução teórica aos manuscritos”, afirmou o editor convidado da Pessoa Plural, um dos primeiros a consultar o espólio, que se encontra no Porto. “O rigor das notas é interessantíssimo.”
“Havia um apelo às questões estéticas, por ter sido o arquiteto que foi, mas era evidentemente um grande leitor. Não procurava apenas os materiais de alguém que era famoso.”
Fernando Távora nunca foi egoísta. Apesar de as suas notas nunca terem saído da sua casa, muitos dos objetos que colecionou saíram. Ao longo de décadas — e principalmente durante o boom dos Estudos Pessoanos, no final dos anos 70, inícios dos anos 80 —, Távora “apoiou a divulgação de documentos na sua posse, quer em edições organizadas por diferentes pesquisadores, incluindo inéditos ou documentos raros, quer mesmo em eventos públicos, como a exposição associada ao Primeiro Congresso Internacional de Estudos Pessoanos, organizado no Porto em 1978”, escreveu Ricardo Vasconcelos na nota introdutória do número 12 da Plural. Esta mostra foi, aliás, montada pelo próprio arquiteto, com a colaboração do Centro de Estudos Pessoanos, que também ficava na Invicta. “Era um pessoano absoluto, apaixonado e incrivelmente informado”, comentou Vasconcelos, em conversa com o Observador.
Távora morreu em setembro de 2005, aos 82 anos. Colecionou compulsivamente até ao final da vida, não só documentos ligados ao modernismo português, mas muitas outras coisas. Em entrevista à RTP, em 2001, disse que “viver é uma coisa que não tem preço”. “Vou deixar uma coisa espantosa, vou deixar isto tudo aqui… Tudo isto que vê aqui… Estas árvores, estas pinturas, estas amizades, o pedreiro, o carpinteiro, sei lá! O que eu deixo de gente, de relações, de amizades, de quadros de textos, de, de, de… Da obra que eu fiz.” Essa obra que, passadas quase duas décadas, permitiu abrir uma nova porta para o modernismo português. Foi por essa razão que os editores da Pessoa Plural lhe quiseram prestar homenagem. A maioria dos artigos do novo número da revista publicada pela Brown University, Warwick University e Universidad de los Andes têm como base manuscritos encontrados na coleção do arquiteto portuense. Esta Pessoa Plural tem mais de 740 páginas, mas os responsáveis garantem que ficou muito material para analisar.
“Em termos de manuscritos, são mesmo milhares”, revelou Ricardo Vasconcelos. “Digitalizamos, pelo menos, cerca de mil páginas manuscritas e há muito mais que ficou por digitalizar. Talvez umas duas, três mil páginas, com o Raul Leal a assumir uma dimensão muito grande.” Mas há outros autores — Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro, Luís de Montalvor, Alfredo Guisado, José Régio, entre outros. Há manuscritos de poesia, correspondência, muitas novidades e alguns textos já conhecidos dos investigadores. Outra coisa que “é interessante notar é que Fernando Távora foi reunindo o que o tempo foi dispersando”, afirmou Ricardo Vasconcelos. Existem documentos de determinados autores, como é o caso de Sá-Carneiro, cujo paradeiro era desconhecido, mas que Távora reuniu na sua coleção. Exemplo disso é a correspondência do autor de Dispersão com o avô, que chegou às mãos do arquiteto em dois períodos diferentes. “Fernando Távora acabou por fazer um serviço comunitário”, afirmou o investigador.
Mas foi sobretudo a “dimensão e qualidade da coleção” que impressionaram Ricardo Vasconcelos quando a visitou pela primeira vez, quando estava a preparar a edição crítica da poesia de Sá-Carneiro, editada pela Tinta-da-China em abril deste ano. “É riquíssima, muito centrada em Pessoa e Sá-Carneiro, mas também com grande relevo para o estudo de Raul Leal. Fernando Távora adquiriu o espólio de Leal, que é uma espécie de nova arca — mas não no estilo de Pessoa — com manuscritos maioritariamente originais e alguns deles inéditos. Há cópias de correspondência, rascunhos que Leal foi guardando e há coisas que são novas”, disse o investigador, professor na San Diego State University. Materiais que, até então, eram desconhecidos. “O espólio do Raul Leal andou perdido durante 40, 50 anos”, referiu ao Observador Jerónimo Pizarro, um dos editores e fundadores da Pessoa Plural, que garante que este número da revista “podia ter sido apenas sobre Raul Leal”. Apesar de não o ser, há uma boa parte que é dedicada ao autor de Sodoma Divinizada.
A importância de ser Leal
Raul Leal foi um escritor português que ficou sobretudo conhecido pela participação no número dois do Orpheu — com uma “novela vertígica” chamada Atelier —, e por ser o autor do ensaio polémico Sodoma Divinisada, sobre António Botto, que foi publicado em 1924 pela editora Olisipo de Pessoa. “Neste ano em que se celebrou o centenário da Portugal Futurista, fizeram-se vários colóquios, no Rio de Janeiro, em Pádua e em Lisboa. Leal acaba sempre por ser posto de lado porque foi mais um autor de polémica devido aos seus ensaios filosóficos, extravagância de comportamento e de discurso também”, afirmou Ricardo Vasconcelos. Personagem controversa, a vida de Raul Leal (com um enredo digno de um filme) acabou por absorver toda a sua obra — em grande parte desconhecida — e o seu papel na introdução do Futurismo em Portugal desvalorizado.
Leal caiu no “esquecimento” e, por essa razão, existe a “necessidade de se revisitar a sua obra e pensamento”. “Acho que tem ideias muito interessantes e que são ilustrativas de um certo período da nossa história literária”, frisou o investigador. E foi exatamente isso que a Pessoa Plural tentou fazer — este número, inclui três artigos dedicados a Leal. O primeiro, “um texto muito bom do Enrico Martines”, analisa a troca de correspondência entre José Régio e Raul Leal sobre a publicação de textos deste na revista Presença. “José Régio batalhou mesmo com os outros membros da Presença para que publicassem o mais possível de Raul Leal”, da mesma maneira que Pessoa, anos antes, o tentou defender publicamente, publicando, inclusivamente, o texto de Sodoma Divinizada, explicou Vasconcelos. E isso fica claro nas cartas que trocaram, nas quais Régio diz que “se a revista tivesse qualquer espécie de prurido moral, então não tinha interesse”. “Fiquei fascinado com a coragem dele, de querer publicar o que lhe apetecesse”, salientou ainda o editor convidado da Pessoa Plural. Um outro texto, assinado por António Almeida, aborda a escrita de Raul Leal sobre as as artes plásticas. O terceiro artigo é da autoria do próprio Ricardo Vasconcelos, que examinou um rascunho de uma carta escrita para Fernando Pessoa depois da morte de Mário de Sá-Carneiro, a 26 de abril de 1916. Esta nunca tinha sido publicada.
Raul Leal “tinha trocado correspondência com Sá-Carneiro, que dizia que ele era doido, que era o mais Orpheu de todos, na pior maneira”. Numa carta enviada a Fernando Pessoa, a 5 de novembro de 1915, o autor de Dispersão escreveu que, apesar de Leal ter algum mérito, era “muita pena que o rapazinho” fosse “um pouco Orfeu de mais” (com um só “f”). “Como se Orpheu significasse só loucura”, explicou Vasconcelos. Curiosamente, Sá-Carneiro era sempre, juntamente com Pessoa, “o primeiro a querer a comoção pública, o choque”. Apesar de ter começado por encarar Leal como um maluquinho, Mário de Sá-Carneiro acabou por “valorizar o pensamento” do filósofo, e os dois “acabaram por se corresponder um pouco”. “Ficou fascinado com o que ele lhe dizia”, chegando mesmo ao ponto de remeter algumas das suas cartas para Pessoa, para que este as lesse.
Quando Sá-Carneiro se suicidou em Paris, foi Fernando Pessoa que informou Raul Leal da sua morte. “Ficou muito chocado. Ele próprio pensou em suicidar-se numa altura de grande miséria em Espanha”, contou Ricardo Vasconcelos. E reagiu de forma estranha — ao saber da notícia, decidiu “fazer uma interpretação filosófica do suicídio”, que depois terá enviado a Pessoa. Nesta teorização, Raul Leal defende que o artista, ao pôr termo à própria vida, “está a fazer uma espécie de autossacrifício, apontando uma direção nova para os que o seguirão”. “A teorização de Leal procura abarcar a sua própria espiritualidade, uma projeção astral das suas emoções, que ecoa a então recém apresentada teoria da relatividade, e a crença no valor redentor da obra artística”, escreveu Vasconcelos em “Foi como se fôsse eu o Suicidádo”. “O mais marcante é o esforço filosófico que ele faz para tentar compreender tudo e a forma como distorce a linguagem de uma maneira ‘vertígica’”, disse o investigador em conversa com o Observador.
Esta “interpretação filosófica” foi exposta numa carta dirigida a Fernando Pessoa, hoje na Coleção Fernando Távora. A missiva foi redigida quando Leal estava em Espanha, para onde foi obrigado a fugir depois da publicação de O Bando Sinistro, um manifesto político-literário sobre a revolução que depôs o regime ditatorial de Pimenta de Castro, a 14 de maio de 1915, que é analisado por António Almeida neste número da Pessoa Plural. A missiva está datada de 7 de maio de 1916 e foi escrita, à mão, em papel timbrado do “elegante” Café Lion d’Or, um importante centro de tertúlias da capital espanhola. Apesar de se tratar, aparentemente, de um rascunho, “não se pode descartar por completo a hipótese de que se trate de uma carta efetivamente enviada a Pessoa e a que Fernando Távora possa ter tido acesso”, escreveu Ricardo Vasconcelos. Contudo, o investigador acredita que existem “razões para crer que se trata de um rascunho de uma carta, cuja versão passada a limpo possa ter sido enviada ou não”.
Além deste texto sobre Raul Leal, Ricardo Vasconcelos escreveu outros dois artigos para este número da Pessoa Plural, também relacionados com Mário de Sá-Carneiro. “Porque é que não escreve Cartas?” revela correspondência inédita entre o poeta e o seu avô paterno, José Paulino de Sá Carneiro, e “Uma Carta Inédita de Fernando Pessoa”, também relacionado com a morte de Sá-Carneiro, fala sobre a segunda carta de Pessoa ao gerente do Grand Hôtel de Nice, onde Sá-Carneiro cometeu suicídio. Até agora, só se conhecia a primeira carta escrita e enviada por Pessoa ao gerente do Nice, a 26 de setembro de 1918, mais de dois anos depois da morte de Sá-Carneiro. Existe uma cópia desse documento na Coleção Fernando Távora, juntamente com uma anotação que explica que o original “pertence ao espólio de F[ernando] Pessoa e foi cedido para figurar na Exposição Biblio-Iconográfica realizada quando do I Congresso Internacional de Estudos Pessoanos”.
“No horizonte solene,
No lívido horizonte
Já estremece um vago horror do dia
Do dia que vai ser aquela infrene
Tortura de agonia
A perturbar o mar, e vale e monte
Toda a paisagem angustiada e fria
Sente que lhe perpassa
Pela verde da carcaça
Uma luz irreal e de profecia.”–Excerto do poema “No Horizonte Solemne”
É também ao espólio do arquiteto que pertence esta segunda missiva — anunciada na primeira, publicada Em Ouro e Alma: Correspondência com Fernando Pessoa, volume organizado por Ricardo Vasconcelos e Jerónimo Pizarro —, que deveria funcionar como “credencial” para que Carlos Ferreira, amigo de Sá-Carneiro em Paris, pudesse levantar os manuscritos que se encontravam no hotel. Juntamente com esta carta, encontra-se uma declaração em nome do avô de Sá-Carneiro, José Paulino de Sá Carneiro, aparentemente preparada por Pessoa, que reiterava as informações fornecidas pelo autor da Mensagem ao gerente do hotel parisiense. Apesar de não adiantar muito mais relativamente aos papéis de Sá-Carneiro, que permanecem desaparecidos, o documento releva outros pormenores sobre os esforços levados a cabo por Pessoa e outros amigos do poeta para reaver os seus bens. “É mais um elemento do puzzle”, frisou Vasconcelos.
O número 12 da Pessoa Plural, onde são apresentados pela primeira vez vários documentos, inclui ainda, entre outros, dois artigos da autoria de Carlos Pittella — uma revisitação do testemunho de Augustine Ormond, que conheceu Fernando Pessoa quando este ainda vivia na África do Sul, e uma análise dos fragmentos do poema “Juliano Apóstata”, de Pessoa —, e uma discussão sobre a importância da caricatura no período modernista, partindo da representação de Pessoa por António Teixeira Cabral, da autoria de Nataliya Hovorkova. Patrícia Silva, cujo texto encerra a secção da revista dedicada aos artigos, falou da estratégia editorial de Orpheu e do contributo de Alfredo Guisado — poeta lisboeta que participou com uma série de treze sonetos no primeiro número da revista — para a divulgação do projeto literário, apresentando poemas do escritor. Jerónimo Pizarro analisou vários documentos de Fernando Pessoa na Coleção Fernando Távora e apresentou um poema inédito, “No Horizonte Solemne”. A fechar a publicação estão três recensões, uma delas sobre o Arquivo Digital Colaborativo do Livro do Desassossego, apresentado oficialmente na semana passada.
Começar onde a Persona acabou
A Pessoa Plural nasceu a 13 de junho de 2012, data de nascimento do poeta que lhe dá nome, com o objetivo de servir de “veículo para a divulgação de materiais inéditos recolhidos da vasta coleção de documentos do espólio” de Fernando Pessoa, “assim como a correção e revisão de outros já publicados”. Editada em conjunto pelos departamentos de Estudos Portugueses e Brasileiros da Brown University, de Estudos Literários Comparativos da Warwick University e de Humanidades e Literatura da Universidad de los Andes — a que pertencem os professores e investigadores Onésimo Almeida, Paulo de Medeiros e Jerónimo Pizarro, respetivamente, responsáveis pela sua edição — é essencialmente uma revista académica internacional dedicada a Pessoa e aos outros que, juntamente com ele, fizeram o modernismo português. Ao contrário de outras publicações, que a antecederam, a Pessoa Plural é exclusivamente online (até agora, foi apenas publicado um número em papel). Não que a edição impressa de edições críticas tenha perdido o interesse, mas porque a publicação digital traz outras vantagens.
“A publicação tradicional, impressa, de edições críticas dos textos de Pessoa e de estudos críticos sobre eles mantém-se absolutamente necessária. No entanto, a publicação electrónica da revista trará vantagens definitivas também”, explicaram os editores numa nota de apresentação no primeiro número da Pessoa Plural. “Possibilitará acesso fácil a novos materiais e estudos a investigadores internacionais, que os podem ler ou descarregar a partir das suas instituições; permitirá a publicação mais rápida de textos e materiais, sem os limites físicos de tamanho, qualidade gráfica e custo normalmente associados com volumes impressos; e permitirá ainda um grau maior de cruzamentos interdisciplinares, uma vez que se espera que tanto os leitores como os colaboradores possam ser estimulados pelas divergentes opções metodológicas e teóricas.”
Curiosamente, a Pessoa Plural não nasceu em Portugal, mas na Holanda. Ou pelo menos a ideia dela. Há cinco anos, Jerónimo Pizarro deslocou-se até à Utrecht University — cujo Departamento de Estudos Portugueses era então dirigido pelo português Paulo de Medeiros —, na Holanda, para apresentar uma comunicação sobre Fernando Pessoa. Ao almoço, os dois investigadores discutiram o que é que podia ser feito para divulgar a obra de Pessoa. “Falámos sobre o que é que poderíamos fazer, o que é que seria bom”, contou ao Observador Paulo de Medeiros, atualmente professor na University of Warwick, em Inglaterra. “A ideia surgiu desse almoço.”
A Paulo de Medeiros e Jerónimo Pizarro veio depois juntar-se Onésimo Almeida, professor da Brown University, em Providence, e um dos responsáveis pela criação, nos anos 70, do Centro de Estudos Portugueses e Brasileiros daquela universidade. Além de ter sido o primeiro do género nos Estados Unidos da América, o núcleo de estudos portugueses da Brown permanece, ainda hoje, o mais importante da América do Norte, desenvolvendo um importante trabalho de divulgação da língua portuguesa. Para Medeiros, a colaboração de Onésimo Almeida — que entrou para o grupo mais ou menos na altura em que o investigador e professor saiu de Utrecht para Warwick, depois de o Departamento de Estudos Portugueses da universidade holandesa ter fechado — veio garantir que “a revista saísse e que saísse com o apoio da Brown e do Onésimo”, que foi responsável por encontrar as melhores pessoas para tratar de certos aspetos mais técnicos.
A revista, que já esteve sediada em Utrecht, é agora de Warwick, Bogotá e Providence, uma realidade que acaba por espelhar o “desejo de ultrapassar os limites de abordagens estreitas à obra de Pessoa”, como escreveram os três editores no primeiro número da revista. Foi também por isso que se chamou à publicação Pessoa Plural porque, tal como os investigadores, editores e diferentes abordagens que a compõem, Fernando Pessoa também foi sempre múltiplo. “São as três universidades dos três editores. É uma espécie de triangulação anglo-americana-colombiana”, frisou por sua vez Jerónimo Pizarro, que Paulo de Medeiros considera ser o grande “motor” da Plural. “Procuro que [a revista] fique nos Estados Unidos da América porque as bibliotecas norte-americanas fazem coisas extraordinárias e há um centro digital dentro da biblioteca da Brown, o que torna tudo muito mais fácil.”
Jerónimo Pizarro considera que tudo aconteceu “numa altura” em que os investigadores sentiam “muito a necessidade de ter uma revista pessoana, não só sobre Pessoa, mas sobre a geração de Pessoa, dos modernistas todos, mas focada em Pessoa e em tudo o que ele pudesse abranger”. Desde que a Persona, publicada pelo Centro de Estudos Pessoanos, no Porto, foi extinta, que não existe uma revista académica focada em Fernando Pessoa e no modernismo português. De 1977 — o ano de nascimento de Pizarro — a 1985 — ano em que assinalou os 50 anos da morte de Pessoa — foram publicadas “quase 900 páginas” e a Persona tornou-se “na grande referência em termos de uma revista académica para os Estudos Pessoanos”. “Quando era aluno, costumava trabalhar muito com a Persona”, confessou o investigador colombiano. “E a Persona teve estes números todos”, disse Jerónimo Pizarro, enquanto mostrava, uma a uma, os 11 volumes (um deles duplos) da revista.
A Persona “durou muito tempo”, considerou Pizarro. “Nem sempre conseguiu ser semestral, mas deixou quase 900 páginas com leituras de Fernando Pessoa, deu a conhecer documentos, comentários sobre o Livro de Desassossego, as cartas de amor, traduções e novidades. Lembro-me muito bem disso tudo”, afirmou, acrescentando que “algumas coisas da Coleção Fernando Távora tinham sido referidas e tinham aparecido na Persona”. “Arnaldo Saraiva fez algumas coisas a partir da coleção. Ele tinha uma relação muito próxima com o arquiteto Fernando Távora.” Ao ponto de levar documentos do seu espólio e deixar pequenas notas a avisar “levei isto, deixei isto”, que os investigadores encontraram no meio dos manuscritos.
Nesse aspeto, Jerónimo Pizarro sente que a Pessoa Plural está, de certo modo, a dar continuidade ao “trabalho histórico muito importante da Persona” e até ao “relacionamento” que a revista pessoana “tinha com a Coleção Fernando Távora”, a que a Pessoa Plural presta tributo neste último número. “A minha memória da Persona não é apenas da revista, é de três ou quatro artigos que marcaram a minha leitura de Fernando Pessoa. A minha esperança com a Pessoa Plural é a mesma — que alguns artigos fiquem na memória de alguns leitores.”
Apesar de ser uma revista académica, tal como era a Persona, a Pessoa Plural não é apenas dirigida a investigadores. Essa é, aliás, a ambição dos editores — que a revista chegue a todos os interessados em Fernando Pessoa e no modernismo português, em todas as partes do mundo. Nesse sentido, “é fundamental que a revista seja em open access”. “Qualquer pessoa pode lê-la. Não é preciso assinaturas, não é preciso pagar nada”, frisou Paulo de Medeiros. Todos os investigadores — editores incluídos — trabalham sem receber “qualquer remuneração seja do que for”. Tudo acontece por amor à causa e por solidariedade para com o projeto. “Como dizia o Pessoa, ‘tudo vale a pena se a alma não é pequena’.”
“A minha memória da Persona não é apenas da revista, é de três ou quatro artigos que marcaram a minha leitura de Pessoa. A minha esperança com a Pessoa Plural é a mesma — que alguns artigos fiquem na memória de alguns leitores.”
O que Jerónimo Pizarro nunca pensou foi que a revista, que começou por ter menos de 500 páginas, acabasse por ter quase mil, tornando-se num “monstro de muitas cabeças”. “É uma coisa que está a crescer de uma forma difícil de acompanhar e que está a dar imenso trabalho. Andamos a trabalhar com muitas imagens, a rever muitos textos, a trocar muitos emails, e queria simplificar isso”, admitiu o editor, acrescentando que não sabe se, no futuro, “dará para manter este ritmo”. “Temos mantido um ritmo exagerado de mil páginas porque ainda há muitíssimo material para dar a conhecer e, na revista, sempre quisemos ter uma parte de artigos mais teóricos, críticos e interpretativos, e uma segunda parte para documentos. E sempre quisemos ter imagens. Existe esta sensação de que há tanta, tanta coisa que os números, que foram pensados para ter 200 páginas, cresceram espontaneamente ao ponto de terem mais de 700.” O que acontece até com ele.
Para este número, Pizarro contribuiu com um artigo chamado “Poemas e documentos inéditos: o lote 31 e a Coleção Fernando Távora”, sobre alguns dos manuscritos pessoanos que fazem parte do espólio do engenheiro portuense. O texto — que inicialmente não era para ser da autoria de Jerónimo, que acabou por escrevê-lo a pedido do editor convidado, Ricardo Vasconcelos — era para ter entre 20 a 30 páginas, mas acabou por ter quase 130 porque o investigador “continuava e continuava a escrever”. Mas, por enquanto, os editores da Plural não estão a colocar limites aos outros ou a eles próprios. Jerónimo Pizarro pode continuar a escrever até se cansar.
E o que é que reserva o futuro à Pessoa Plural?
Para Paulo de Medeiros, a grande dificuldade de manter qualquer revista passa por perceber “se tem fogo” para continuar mas, felizmente, a Pessoa Plural tem “conseguido manter” isso. “Tem crescido bastante em tamanho e também em qualidade. Além disso, tem conseguido manter a regularidade, que penso ser essencial para uma revista periódica e científica. Se não for regular, rapidamente vai abaixo”, afirmou o professor universitário. “Modéstia à parte — porque o trabalho duro é o que é feito pelo Jerónimo —, penso que, dentro do campo dos Estudos Pessoanos, não há nenhuma revista que se lhe equipare.” Essa é uma das razões pelas quais não está preocupado com o futuro da Pessoa Plural e também porque “há toda uma geração nova de pessoas que está a trabalhar muito bem, como o Ricardo [Vasconcelos], o Carlos [Pittella ]”. “Penso que o futuro da revista irá ficar assegurado por essas pessoas mais novas.”
Em 2018, Jerónimo Pizarro gostava de separar os números especiais dos números regulares. “Temos tido muita coisa híbrida, entre temática e números com contributos avulsos que chegam simplesmente por submissão.” Por essa razão, o pessoano gostava de separar as coisas e ter “números com o que é submetido e números que são pensados desde o início”. O próximo número da Pessoa Plural está agendado para junho — altura em que se celebram os 130 anos do nascimento de Fernando Pessoa — e o segundo deverá sair em dezembro. “O que gostaria era de, em junho, termos um número normal e, já no final do ano, termos novamente um editor convidado e um número temático.” Além disso, a revista irá continuar “com um grande compromisso com a Coleção Fernando Távora”, o que significa que se voltará a falar do arquiteto. Em 2018, também deverá voltar a revisitar a Coleção Hubert Jennings, que tem ainda muito material que vale a pena dar a conhecer, e brincar com a questão da numerologia e astrologia em Fernando Pessoa, aproveitando para isso o aniversário do nascimento do escritor.
“Modéstia à parte — porque o trabalho duro é o que é feito pelo Jerónimo [Pizarro] —, penso que, dentro do campo dos Estudos Pessoanos, não há nenhuma revista que se lhe equipare.”
Já Carlos Pittela espera que a revista continue a trabalhar com arquivos, como o de Fernando Távora ou o de Hubert Jennings. O brasileiro — que começou por estudar jornalismo mas que se apaixonou definitivamente por literatura quando estudou em Coimbra — começou a colaborar regularmente com a Pessoa Plural a partir do número oito, publicado no outono de 2015, onde participou como editor convidado. “Até ao número sete, a Pessoa Plural não teve editores convidados. Os editores eram sempre o Jerónimo, o Paulo e o Onésimo”, explicou. “A ideia sempre foi a da revista ser internacional — foi feita de propósito para estar fora de Portugal, para a internacionalizar, apesar da maior parte dos contributos sempre terem sido de portugueses. Mas, a partir do número oito, foi tudo bastante orgânico. Foi quando foi descoberto o espólio do Jennings” que, nesse ano, foi doado à Brown pela família do investigador, um dos primeiros a interessar-se pela obra inglesa de Pessoa. Nesse sentido, o número oito e 12 têm muito em comum — tratam de “duas coleções particulares, dois espólios pessoanos, que foram encontrados” e que, apesar de terem “muita coisa diferente entre si”, permitem realizar novas abordagens à obra de Pessoa.
“O que eu acho interessante é que a Plural está a tornar-se cada vez mais numa publicação de literatura comparada que usa Pessoa como centro. Está a tornar-se cada vez mais plural de diferentes formas — por estimular a colaboração entre as pessoas (por vezes aparecem dois autores), por ter editores convidados… É plural nesse sentido — entende Fernando Pessoa como um ponto de encontro de diferentes pessoas.” Em 2018, Pittela espera também ver a revista a crescer de “outras formas”. “[Espero] que envolva mais vozes que aparecem menos. Os Estudos Portugueses são muito dominados por homens e eu e o Jerónimo queremos menos disso. Queremos universidades da América Latina, da Ásia, vozes de mulheres, embora este número não seja muito representativo disso, por outras razões. Isso não é um problema da Pessoa Plural, mas dos Estudos Portugueses no geral.”
E depois há a parte técnica, que tem sido da responsabilidade de Carlos Pittella. É ele que tem supervisionado a passagem da revista para o Brown Digital Repository, da universidade de Providence, uma mudança vai permitir associar Digital Object Identifiers (DOIs), isto é, bilhetes de identidade para objetos digitais, aos artigos da Pessoa Plural. Além de dar visibilidade e facilitar a publicação da própria revista (antes de estar integrada no Brown Digital Repository, eram precisas cerca de 40 horas para colocar a Pessoa Plural online, um processo que agora demora apenas um dia), esta passagem vai permitir tornar as coisas muito mais interativas. “O repositório da Brown permite fazer coisas que nunca pensámos. Podemos usar som, transcrições digitais, publicar filmes. Pode tornar-se de facto numa revista multimédia, e gostava de brincar muito com isso”, admitiu o investigador, dando como exemplo o que foi feito no Arquivo Digital do Livro do Desassosego, uma plataforma interativa que permite comparar diferentes edições da obra de Bernardo Soares e criar edições digitais. “Queria aproveitar o ano que vem e fazer uma coisa muito diferente”, acrescentou Pittella. “Vou sempre querer que a Plural seja mais plural.” E mais multimédia, claro.
Todos os números revista Pessoa Plural, incluindo o número 12, podem ser lidos aqui
in: "Observador"
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