sexta-feira, 24 de outubro de 2014

sem título

Sim, sei bem
Que nunca serei alguém.
Sei de sobra
Que nunca terei uma obra.
Sei, enfim,
Que nunca saberei de mim,.
Sim, mas agora,
Enquanto dura esta hora,
Este lugar, estes ramos,
Esta paz em que estamos,
Deixem-me crer (até ver)*
O que nunca poderei ser.

*Deixem-me crer, até ver (primeira versão)

8/7/1931, Ricardo Reis (Fernando Pessoa) 



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