Sona Jobarteh é a primeira fêmea virtuosa Kora a vir de uma prestigiada família griot ocidental africana. Rompendo com a tradição, ela é uma pioneira moderna em uma antiga tradição hereditária dominada pelos homens que foi transmitida exclusivamente de pai para filho nos últimos sete séculos.
Também compositor, produtor e multi-instrumentista, Sona é um dos mais excitantes talentos da tradição Griot do Oeste Africano para chegar ao palco nos últimos anos.
Sona tem uma capacidade sem esforço para misturar estilos musicais e usa sua postura inovadora para falar sobre questões relacionadas com a identidade cultural, gênero, amor e respeito, enquanto ainda aderindo e enraizando-se firmemente no seu património cultural tradicional. Sona representa a sua tradição de uma forma que é facilmente acessível ao seu público de todo o mundo, que são atraídos por sua voz cativante, ritmos fortes e melodias cativantes.
Franz Schubert compôs seu lied Erlkönig em 1815 para voz e piano, com o texto do poema de Goethe. Schubert avaliaram a sua obra três vezes antes de publicar sua quarta versão, em 1821, como seu Opus 1; após a sua morte foi listada como D.328, usando o sistema de Otto Erich Deutsch . Ele foi testado para a primeira vez em um concerto no dia 01 de dezembro de 1820 em uma reunião privada em Viena . Foi apresentado ao o público em 07 de março de 1821 no Theater am Kärntnertor na mesma cidade (wikipédia)
Na opinião de António Vitorino de Almeida (compositor),
esta obra musical é uma das mais belas e foi criada pelo autor, quando contava apenas 16 anos.
O Rei dos Álamos
(tradução de Eugénio de Castro)
Quem cavalga tão tarde, ao vento e pela treva?
O cavaleiro é um pai, p'lo filho acompanhado,
Pai que, nos braços seus, o filho leva,
Cingindo-o muito, a fim de o ter agasalhado.
- Porque escondes, meu filho, essa carinha, tanto?
- Dos álamos, o Rei, meu pai, não o vês?
Não o vês tu, meu pai, coroado e com manto?
- Engana-te da bruma, alguns flocos talvez.
- Vem comigo, meu lindo! Ah, vem comigo! Vens!
Contigo jogarei jogos bem divertidos;
Muitas garridas flor's nas minhas ribas tens,
Minha mãe tem para ti áureos vestidos.
- Aos teus ouvidos, pai, dize-me cá, não chega
Tudo aquilo que o Rei me promete baixinho?
- Não te inquietes, meu filho, ó meu meu filho sossega:
quero ver-te, mesmo que seja ao lusco fusco, mesmo que seja nas tardes frias, ou ao nascer do dia assim, em forma de pássaro a voar selvagem e livre dentro e fora de mim…
Homenagem sobre a tragédia de Aberfan | País de Geles | 1966 | 50° aniversário Fez recentemente 50 anos que, no dia 21 de Outubro de 1966, ocorreu uma tragédia na pequena localidade de Aberfan, no País de Gales. Os detritos da escombreira de uma mina de carvão próxima, misturados com a água das chuvas intensas que caíram na região, formaram uma torrente de lama negra que, rapidamente, desceu pela encosta da montanha até ao vale e soterrou grande parte da povoação, tendo então morrido 144 pessoas (116 crianças e 28 adultos).
Para lembrar esse desastre, o músico e compositor galês Karl Jenkins (n.1944) dirige uma orquestra juvenil de violinistas, que acompanha um coro de crianças cantando a “Cantata Memória – Lament for the Valley”
Lou Albergaria (Ponte Nova-MG), economista e poeta. Nasceu em 27 de julho de 1969. Tem poemas publicados em vários sites de Literatura e Cultura como Germina, Vidráguas, Mallarmargens e também na Revista E – Sesc/SP. Está sempre nas redes sociais, esparrAmando poesia, arte e alguma transgressão. Mora em Belo Horizonte. Autora dos livros O Cogumelo que nasce na bosta da vaca profana(Editora Vidráguas, 2011) e Doida Alquimia (Patuá, 2015). Mais poemas em sTRIPalavras: http://loualbergaria.blogspot.com.br
Ah, eu adoro propriedade é esperança quando você vai
em alas frias de sua alma
Isso é tão grande o desejo de sua voz
Mas essas grandes ondas me levar
Meu coração me diz
por que essa dor
que eu vejo o medo em seus olhos
E você, não, você não está sozinho
deve matar a solidão em você
Ah, eu adoro propriedade é esperança quando vamos
Mas essas ondas enormes leva-me
Meu coração me diz
por que essa dor
que eu vejo o medo em seus olhos
E você não está sozinho
deve matar a solidão em você
e você, você não está sozinho
deve matar a solidão em você
e você, você não está sozinho
deve matar a solidão em você.
Rodrigo Leão
biografia_(by: página oficial)
Dono de uma das mais interessantes discografias do nosso país, o músico e compositor Rodrigo Leão tem conhecido o sucesso dentro e fora de portas, facto que lhe tem permitido ter convidados de peso nos seus discos, como aconteceu com Ryuichi Sakamoto ou Beth Gibbons (Portishead). E isso reflecte apenas uma intensa ética de trabalho que nasce de uma dedicação profunda à música, patente desde sempre na sua carreira.
Na década de 80, o seu visionário trabalho na Sétima Legião lançou pistas que ainda hoje são exploradas pela nossa pop. Fez também parte dos Madredeus, grupo com que começou por explorar o mundo e com quem gravou três álbuns que angariaram aplausos em todo o planeta. Logo depois, Rodrigo aventurou-se a solo com enorme sucesso. «Ave Mundi Luminar», editado em 1992, levou o seu nome aos mais importantes mercados do mundo. Seguiram-se trabalhos como «Mysterium» (1995), «Theatrum» (1996), «Alma mater» (2000) e a compilação «Pasión» (também de 2000). Com o álbum «Cinema», de 2004, a sua música alcançou novas audiências, reaproximando-o da esfera pop.
Depois, a compilação «O Mundo», lançada internacionalmente em 2006, garantiu-lhe os mais rasgados elogios: Pedro Almodôvar, por exemplo, não teve dúvidas e descreveu Rodrigo Leão como «um dos mais inspirados compositores do mundo». Finalmente, em 2007, Rodrigo deu música às imagens da excelente série de televisão «Portugal – Um Retrato Social» e percorreu com sucesso várias salas do nosso país. Seguiu-se o desafio dos responsáveis pela maior série de ficção já produzida em Portugal, «Equador», para a qual Rodrigo compôs algumas evocativas peças que são já momento alto dos seus concertos.
Em 2009 edita “ A Mãe” que tem entrada directa para o 1ª lugar no Top de Vendas Nacionais onde permanece durante várias semanas tendo atingido o Galardão de Dupla Platina, Rodrigo Leão apresenta esse espectáculo em Portugal e no estrangeiro e em 2010 vê reeditado o seu álbum AVE MUNDI LUMINAR que apresenta em 3 concertos consecutivos e esgotados em Lisboa e Porto.
Em 2011 dá início a uma digressão Instrumental “A Montanha Mágica” melodias feitas de memórias e mistério, caixinhas de música guardadas em gavetas secretas, guitarra portuguesa que sublinha uma subtil identidade que é portuguesa mas aplaudida por todo o mundo.
O ano de 2013 testemunha outras formas de entrada na sua obra, por via das canções que tem composto em inglês ao longo da sua carreira. Songs (2004-2012) parte exactamente dessa ideia de vocação universalista reunindo canções como «Deep Blue», «Cathy», ou «Sleepless Heart», tema principal da serie de televisão “Equador” e ainda três inéditos.
2013 foi ainda um ano extraordinário na composição para cinema – Rodrigo Leão compôs 3 bandas sonoras: “A Gaiola Dourada “ – o maior sucesso de bilheteira em Portugal e França este ano, a banda sonora do filme “O Mordomo” do realizador americano Lee Daniels e ainda a banda sonora da longa-metragem Angolana “NJINGA Rainha de Angola” do realizador Sérgio Graciano.
A música de Rodrigo Leão tem igualmente merecido os aplausos do público mais exigente e isso justifica que tenha sido escolhido pela Assembleia da República para a homenagem aos 40 anos do 25 de Abril que transformou a escadaria de São Bento num palco singular. O resultado desse espectáculo foi “O Espírito de Um País”, um CD/DVD editado em Outubro de 2014, e que foi o pretexto para um aguardado reencontro com os palcos, num formato especial e diferente daquele que os seus seguidores estão habituados. Num espectáculo em português, onde se enaltece a alma e a identidade de um povo, Rodrigo Leão reencontra as suas raízes e volta a apaixonar-nos.
No final de 2015 editou “O Retiro” em parceria com a Orquestra e Coro da Gulbenkian, que entrou directamente para o n.º 2 do top nacional de vendas e para o n.º1 do top digital e que foi apresentado nos Coliseus de Lisboa e Porto com lotação esgotada.
Depois de um ano de intensa actividade, dividido entre a sua tour e mais uma colaboração, desta vez com o realizador Marcel Barrena no filme “100 Metros” que tem estreia marcada para 4 de Novembro em Espanha e Portugal, prepara-se agora para ver editado um novo projecto. O álbum colaborativo com o cantor australiano Scott Matthew – “Life Is Long” – estará à venda a partir do dia 30 de Setembro e será apresentado pela primeira vez no dia 4 de Novembro no Coliseu do Porto no âmbito da 7ª edição do Misty F.est, dando origem a uma Tour Europeia
Lula Pena, é uma cantora portuguesa. Estudou design gráfico e comunicação visual na escola de Artes Visuais António Arroio, em Lisboa. Mudou-se para Bruxelas em 1992, onde descobriu que a distância é um dos pilares do Fado.Wikipédia
Naquela mesa ele sentava sempre E me dizia sempre o que é viver melhor Naquela mesa ele contava histórias Que hoje na memória eu guardo e sei de cor Naquela mesa ele juntava gente E contava contente o que fez de manhã E nos seus olhos era tanto brilho Que mais que seu filho Eu fiquei seu fã
Eu não sabia que doía tanto Uma mesa num canto, uma casa e um jardim Se eu soubesse o quanto dói a vida Essa dor tão doída não doía assim Agora resta uma mesa na sala E hoje ninguém mais fala do seu bandolim Naquela mesa tá faltando ele E a saudade dele tá doendo em mim Naquela mesa tá faltando ele E a saudade dele tá doendo em mim
Eu não sabia que doía tanto Uma mesa num canto, uma casa e um jardim Se eu soubesse o quanto dói a vida Essa dor tão doída não doía assim Agora resta uma mesa na sala E hoje ninguém mais fala do seu bandolim Naquela mesa tá faltando ele E a saudade dele tá doendo em mim Naquela mesa tá faltando ele E a saudade dele tá doendo em mim
Naquela mesa tá faltando ele E a saudade dele tá doendo em mim Naquela mesa tá faltando ele E a saudade dele tá doendo em mim. Música:Sérgio Bittencourt
Dance me to your beauty with a burning violin Dance me through the panic 'til I'm gathered safely in Lift me like an olive branch and be my homeward dove Dance me to the end of love Dance me to the end of love
Oh, let me see your beauty when the witnesses are gone Let me feel you moving like they do in Babylon Show me slowly what I only know the limits of Dance me to the end of love Dance me to the end of love
Dance me to the wedding now, dance me on and on Dance me very tenderly and dance me very long We're both of us beneath our love, we're both of us above Dance me to the end of love Dance me to the end of love
Dance me to the children who are asking to be born Dance me through the curtains that our kisses have outworn Raise a tent of shelter now, though every thread is torn Dance me to the end of love
Dance me to your beauty with a burning violin Dance me through the panic till I'm gathered safely in Touch me with your naked hand or touch me with your glove Dance me to the end of love Dance me to the end of love Dance me to the end of love
Nesse tempo eu pouco sabia De filósofos ou de colheitas tardias E menos ainda de contas correntes Ou de novas galáxias Redondo era o mundo e Eu girava girava Dançava dançava muito Em redor de mim Em redor da saia que rodava E chorava porque O coelhinho branco morrera Ou o rapaz afinal tinha outra namorada Queria que o meu cabelo embranquecesse E eu fingisse de velha De uma velhice mais bonita Que a minha mocidade Nada sabia da morte das abelhas E menos ainda da vida Depois de muitas mortes Conhecia vagamente os nomes de cidades E sonhava com elas Porque havia de as visitar No princípio de todas as primaveras Eu era tão ignorante Nesse tempo Agora sei os nomes das árvores da minha rua O tamanho da estrela maior O tempo de vida do amor E muito mais Confesso que pintei o cabelo Da cor da mocidade Que era tão bonita e nem isso eu sabia
de olhos postos no céu. cantou pausadamente a vida no silêncio e a voz densa no coração.
segunda-feira, 07.nov.2016
lmc
...............
Todos os homens
Pedro Adão e Silva
11.11.2016 às 20h02
"A voz foi ficando mais grave e trémula, enquanto adquiria ainda mais drama; o corpo foi-se curvando, mantendo elegância, e aproximando-se da imagem do “pequeno judeu que escreveu a Bíblia”. Mas, em Leonard Cohen, o tempo nunca fez sentido. Cohen nunca foi um homem da sua época, nem de nenhuma época. Na verdade, nunca foi jovem. Nasceu já com uma maturidade absoluta, vestido com um fato de corte impecável e chegou ao mundo da música tarde (para conquistar todas as mulheres?), quando já havia ganho reconhecimento como poeta e escritor. Se bem que se tenha aproximado dos movimentos folk e da poesia beat, dificilmente se pode dizer que pertencia a um grupo ou fazia parte de uma tendência.
Mas se o tempo não ajuda a compreender o legado de Cohen, a sua biografia ajuda a revelar a sua obra. O órfão que se torna aos nove anos o único homem de uma casa de mulheres; o judeu oriundo de uma das famílias mais influentes da comunidade judaica do Canadá; o pré-adolescente que aprende hipnotismo para despir a empregada; o estudante que se envolve nos círculos intelectuais de Montreal; mas também o jovem escritor que parte em busca de sucesso literário em Nova Iorque e Londres; o músico que tem um sucesso súbito e que vive uma vida boémia, repleta de anfetaminas, álcool e muitas mulheres; para logo depois buscar o recolhimento pleno de brancura, em Hydra, nos braços de Marianne; o homem maduro, de uma religiosidade profunda, que se recolhe num mosteiro budista, levando um quotidiano de um ascetismo radical, mas que nunca abandonou o judaísmo; o amante convicto de um rol infindável de musas; o Pai dedicado de Adam e Lorca. Cohen foi todos os homens e esteve em todas as suas canções.
É certo que entre os 14 álbuns que lançou há elementos de mudança. Ao princípio, a voz era menos espessa e a guitarra bem mais presente (que conta a lenda aprendeu a dedilhar com um espanhol radicado no Canadá, amante de Lorca, e que se suicidou após algumas lições com o jovem Leonard), depois da trilogia inicial, o ambiente foi ficando mais denso (com Songs of Love and Hate), para mais tarde enveredar por uma “parede de som”, numa trip alucinada, em colaboração com Phil Spector (Death of a Ladies Man). Na passagem dos anos 70 para os 80, perdeu algum fulgor e reconhecimento público (Various Positions começou por não ter distribuição nos EUA) para começar uma nova fase a partir de I’m Your Man, de voz mais grave e acompanhado pelos teclados roufenhos e de gosto duvidoso que se tornariam imagem de marca. Pelo caminho, a compilação de reinterpretações, I’m Your Fan, primeiro, e um desfalque financeiro, depois, que o devolveu às tournées e tornou possível uma notável trilogia final (Old Ideas; Popular Problems e You Want It Darker), deram-lhe o reconhecimento de um público mais alargado.
Há, contudo, no essencial, elementos de continuidade entre Songs of Leonard Cohen e o recente You Want It Darker. A toada melancólica e um horizonte sombrio, as melodias envolventes, variações incessantes do mesmo canto lento, mas, acima de tudo, temáticas persistentes: a tentativa de lidar com a beleza absoluta através da palavra (o que é próprio dos “oprimidos pelas figuras de beleza”), o confronto com o juízo final (“I'm ready, my lord”, canta a abrir You Want it Darker), um ensimesmamento reflexivo que coexiste com uma sexualidade exuberante e uma celebração do amor, transformada em nostalgia sobre as paixões passadas. Sobre tudo pairou sempre um espectro apocalíptico (“I’ve seen the future and it’s murder”), só superável pelo diálogo com Deus. Cohen pareceu sempre ter sido deixado sem escolha – para além de conferir um sentido ao amor, à sexualidade e à religiosidade através do “dom de uma voz dourada”. Stranger Song, tema marcante do álbum de estreia, sugere o mesmo descontentamento e busca de redenção (“It's true that all the men you knew were dealers/who said they were through with dealing/Every time you gave them shelter”) que Treaty, canção que, sintomaticamente, encerra o derradeiro disco (“We sold ourselves for love but now we're free/I'm sorry for the ghost I made you be/Only one of us was real and that was me”). Nos dois casos, a paixão é um alimento para a insatisfação do espírito.
É conhecida a conversa entre Dylan e Cohen, onde o agora prémio Nobel terá dito, com convicção: “Leonard, tu és o número 1; mas eu sou o número zero”. Talvez seja uma forma de descrever a diferença. Dylan é um fenómeno cultural, um reinventor incessante do cânone. Cohen é a versão mais perfeita do cânone. A forma superior como ligou poesia com música foi seguida por muitos, mas está longe de ter sido alcançada."
“Pessoa pela estrada do Jazz”, o último trabalho de Mariano Deidda dedicado à obra do poeta português (que conta com a colaboração de Enrico Rava, Kenny Wheeler, Miroslav Vitous, entre outros), chega esta sexta-feira às lojas portuguesas. O músico italiano está de novo em Lisboa, na casa de Pessoa, “onde em qualquer rua podemos ouvir os seus passos”
MARIA JOÃO BOURBON
Mariano Deidda nunca se cansa de conhecer e dar a conhecer Fernando Pessoa através da música. “Dediquei aos versos de Pessoa quase a minha discografia, 15 anos de trabalho”, recorda ao Expresso esta sexta-feira, dia em que foi colocado à venda o seu novo disco, o segundo editado em Portugal. Depois de cinco álbuns, seguiu-se uma versão da “Mensagem”, totalmente renovada e este novo trabalho.
É pelas estradas do jazz que o cantautor italiano vai mostrando o poeta português a todos aqueles que o quiserem ouvir. “O jazz, tal como a música clássica, é intemporal, fala a todas as línguas do mundo tal como o próprio Pessoa.”
Foi por isso que o cantor e compositor decidiu escolher o nome de “Pessoa Sulla Strada Del Jazz” (“Pessoa Pela Estrada Do Jazz”, numa tradução livre) para regressar a alguns dos temas de outros álbuns que não canta habitualmente em concertos, compilando-os num só, com ligeiros toques e novos arranjos, próximos do jazz. O disco conta com a participação dos trompetistas Enrico Rava e Kenny Wheeler, do contrabaixista Miroslav Vitous, do clarinetista Gianluigi Trovesi, entre outros.
“Clarino chiaro” (“Clarim claro”) é o poema de abertura do álbum, que passa ainda por “Canzone per Lisboa” (“Canção para Lisboa”), “Non ho fatto alto che sognare” (“Não fiz outra coisa que sonhar”), entre outros.
“Foi uma escolha pessoal, estas são as canções que mais gosto. Assim tenho a possibilidade de ouvi-las todas juntas e espero que o público português também goste”, explica. “O que torna este disco diferente dos outros é o o jazz, mas sobretudo porque reúne todas as grandes músicas que tinha criado em trabalhos anteriores.”
Este é também o segundo álbum de Mariano Deidda editado em Portugal. Nos últimos anos, o cantautor que se dedica a transformar em música a obra de grandes poetas, como Pessoa, já tocou em várias salas do nosso país, onde tem gosto em regressar. “Lisboa é mesmo a casa de pessoa, em qualquer rua podemos ouvir os seus passos.”
Mariano Deidda vive fascinado pela obra de Pessoa. E, também por isso, juntou todos os esforços que conseguiu para dedicar o nome de um jardim-infantil em Chivasso, Itália, a Fernando Pessoa - o que conseguiu fazer no ano passado.
“Acredito que, como o Luigi Pirandello, [Pessoa] foi um dos mais assíduos 'frequentadores' das despersonalização, da fragmentação do "eu", e nunca como nesta época foi tão necessário descobrirmos o nosso duplo, triplo e quádruplo, porque só atravessando isso podemos ter a possibilidade de nos abrirmos aos outros”, remata. “Também por isto sou fã de Pessoa.”
Pela estrada desce a noite
Mãe-Negra, desce com ela…
Nem buganvílias vermelhas,
nem vestidinhos de folhos,
nem brincadeiras de guizos,
nas suas mãos apertadas.
Só duas lágrimas grossas,
em duas faces cansadas.
Mãe-Negra tem voz de vento,
voz de silêncio batendo
nas folhas do cajueiro…
Tem voz de noite, descendo,
de mansinho, pela estrada…
Que é feito desses meninos
que gostava de embalar?…
Que é feito desses meninos
que ela ajudou a criar?…
Quem ouve agora as histórias
que costumava contar?…
Mãe-Negra não sabe nada…
Mas ai de quem sabe tudo,
como eu sei tudo
Mãe-Negra!…
É que os meninos cresceram,
e esqueceram
as histórias
que costumavas contar…
Muitos partiram pra longe,
quem sabe se hão-de voltar!…
Só tu ficaste esperando,
mãos cruzadas no regaço,
bem quieta bem calada.
É a tua a voz deste vento,
desta saudade descendo,
de mansinho pela estrada…
Alda Lara_" Testamento '
À prostituta mais nova Do bairro mais velho e escuro, Deixo os meus brincos, lavrados Em cristal, límpido e puro… E àquela virgem esquecida Rapariga sem ternura, Sonhando algures uma lenda, Deixo o meu vestido branco, O meu vestido de noiva, Todo tecido de renda… Este meu rosário antigo Ofereço-o àquele amigo Que não acredita em Deus… E os livros, rosários meus Das contas de outro sofrer, São para os homens humildes, Que nunca souberam ler. Quanto aos meus poemas loucos, Esses, que são de dor Sincera e desordenada… Esses, que são de esperança, Desesperada mas firme, Deixo-os a ti, meu amor… Para que, na paz da hora, Em que a minha alma venha Beijar de longe os teus olhos, Vás por essa noite fora… Com passos feitos de lua, Oferecê-los às crianças Que encontrares em cada rua…
O sal das minhas lágrimas de amor Criou o mar que existe entre nós dois Para nos unir e separar Pudesse eu te dizer A dor que dói dentro de mim Que mói meu coração nesta paixão Que não tem fim Ausência tão cruel Saudade tão fatal Saudades do Brasil em Portugal
Meu bem, sempre que ouvires um lamento Crescer desolador na voz do vento Sou eu em solidão pensando em ti Chorando todo o tempo que perdi.
Teresa Salgueiro apresenta o novo álbum a solo O Horizonte em concertos hoje na Casa da Música, no Porto, e amanhã no Centro Cultural de Belém, em Lisboa. Conversámos com a antiga vocalista dos Madredeus num hotel lisboeta.
Com nove anos de percurso em nome individual, Teresa Salgueiro está a viver o início de uma nova etapa a solo com o álbum O Horizonte, editado na semana passada. Hoje e amanhã, na Casa da Música e no Centro Cultural de Belém, Teresa Salgueiro vai interpretar os temas do novo disco, promete recuperar algum do reportório do longo antecessor O Mistério, e vai cantar "algumas versões de temas da cultura portuguesa", sem esquecer os Madredeus.
Teresa Salgueiro passa a assumir no novo disco o comando de todos os aspetos da sua música - letras, composição, interpretação e até produção a meias com o seu multi-instrumentista Rui Lobato. "De facto, este disco foi uma grande luta, porque começou a ser composto logo depois de O Mistério, o disco que gravei em 2012. Entretanto, houve muitas alterações. O Horizonte representa aquela linha que está ali [Teresa aponta ao fundo], sempre longe. É o limite daquilo que conseguimos ver e que nos convida a fazer um caminho. À medida que caminhamos, o horizonte muda mas o sonho permanece. Nesse caminho vamos encontrando o mundo real. Sendo o sonho de ser músico, este disco teve de passar por várias fases e obstáculos que se tornam oportunidades para melhorarmos as coisas. Acredito que o disco é melhor agora. Se tivesse sido feito há quatro anos, o disco teria sido outro. Acho que a música está mais profunda do que a de O Mistério. Mudaram pessoas, saiu o guitarrista que queria fazer um masterclass em Nova Iorque. Há dois anos saiu a acordeonista. É uma muito maior responsabilidade, a de gerir esta atividade para a qual colaboram pessoas cujas vidas dependem disto."
Nesta nova formação, além de Rui Lobato, o coletivo de Teresa Salgueiro conta com o contrabaixista Óscar Torres, o acordeonista Marlon Valente e o guitarrista Graciano Caldeira. "Os músicos que vieram trouxeram a sua linguagem. Se calhar, o tempo que levou podia ter sido um pouco menor. Mas o percurso que tem sido feito tem sido muito enriquecedor para mim."
A curiosidade é que Teresa Salgueiro continua a ser acompanhada por mais quatro instrumentistas, o que aconteceu em vários períodos dos Madredeus. "É uma coincidência mas também uma procura. Aquilo que eu quis era um som que fosse novo, que não me fizesse repetir. Pensei no acordeão porque era um instrumento que tinha estado no meu início. E é um instrumento bastante versátil, parece uma orquestra. E é muito português. O contrabaixo é um instrumento também bastante versátil. Ainda por cima, o contrabaixo do Óscar é elétrico e permite o uso de pedaleiras e de uma série de recursos. A ideia era encontrar uma música que fosse ao encontro da minha voz e de um som com o qual me identificasse."
Na comparação inevitável de O Horizonte com os Madredeus, notam-se algumas diferenças substanciais, nomeadamente na secção rítmica. Mas há associações evidentes, como o ar do acordeão. "Poderá haver uma proximidade sonora nalgumas coisas e até de inspiração, pois sou a mesma pessoa. Passei muitos anos a cantar o meu amor a Portugal e continuo a fazê-lo. Mas a música é muito diferente. Nos Madredeus, os temas são mais canções, com uma estrutura clássica. Nós hoje não fazemos bem isso. Há pontualmente canções, mas o que fazemos são essencialmente peças, as letras raramente se repetem. É outra fórmula de música. Mas se me compararem aos Madredeus, só posso ficar contente, estive lá tanto anos. Gostei muito dos Madredeus quando lá estive."
Outra das razões que ajudam a diferenciar o novo álbum de Teresa Salgueiro do legado dos Madredeus prende-se com o facto de a cantora lisboeta passar a assinar as letras. "Estes temas que tocamos sabemos que vão suportar a voz e as palavras cantadas e um pensamento - tanto n"O Mistério como n"O Horizonte. Acho que este disco é muito pessoal mas não num sentido autobiográfico. É pessoal porque representa o meu pensamento e a minha visão sobre a realidade. Quando estou a escrever, estou a imaginar quem vai ouvir-me. Claro que imagino uma plateia, mas também imagino um a um. Nesse sentido, é um disco dirigido a cada um."
Nessa escrita de letras, Teresa Salgueiro conseguiu inspirar-se para o tema mais interventivo que jamais cantou: chama-se Êxodo. "Esse tema já tem quatro anos. E sempre se chamou Êxodo mas só escrevi as letras há pouco tempo. O Êxodo inspirou-me sempre a falar nos povos excluídos. Há séculos que cruzam o planeta, expulsos por outras comunidades. Isso é uma coisa que me faz muita confusão. Portugal é também um país de diásporas, se bem que a emigração foi muitas vezes forçada, de que temos casos recentes. Quando comecei a escrever este tema, aconteceu a guerra da Síria que tem provocado este êxodo terrível. Estava a lembrar-me de povos, que para além de perderem as suas casas não têm para onde ir. Se houvesse vontade política, nós poderíamos estar a viver num mundo extraordinário. Mas o pior da natureza humana ainda está a vencer. É assustador. Temos de lutar."
Durante vinte anos, Teresa Salgueiro habituou-se ao amparo de uma retaguarda altamente profissional chamada Madredeus. Mas Teresa Salgueiro não se sente hoje mais desamparada: "Sinto-me livre. E tenho outra retaguarda, de músicos extraordinários que me acompanham. Há um núcleo duro na banda, formado por mim, pelo Rui Lobato e pelo Óscar Torres, e há um trabalho de equipa que me faz sentir apoiada. Tenho a sorte de contar com estas pessoas, com quem consigo falar, e que se preocupam tanto quanto eu com a qualidade. Há muita liberdade criativa em que eu sou o filtro."
Saída pacífica dos Madredeus
O que será mais difícil: uma rapariga de 17 anos a enveredar pela carreira de cantora no início dos Madredeus ou uma mulher com mais vinte anos em cima a decidir aventurar-se num percurso a solo? Para a cantora, a decisão de sair dos Madredeus não foi "nada difícil porque foi pacífica e a única possível. E a decisão de ingressar nos Madredeus também não foi nada difícil porque foi uma alegria, ninguém sabia no que aquilo ia tornar-se. Eu era ainda miúda. O grupo depois profissionalizou-se mas no início foi um encontro feliz. Saí por um desentendimento de agenda. Tínhamos combinado um tipo de ocupação e estava a ser-me exigido outro. "Ou é este ou é nada!". Neste caso, escolhi o nada. Era a única opção possível, não ia ficar a fazer uma coisa que não tínhamos combinado e que não me ia permitir estar de corpo e alma no projeto como sempre estive ou como sempre tentei estar. Nesse sentido, foi pacífico. Somos responsáveis pelos sonhos que escolhemos. Claro que isso tem consequências. No meu caso, o meu sonho era continuar a cantar."
E para continuar a cantar, Teresa Salgueiro tem os cuidados normais com a voz, como explica: "Tentar ter uma vida regrada a nível de dormidas, não fumar, não beber. Já fumei no passado mas já deixei há muito tempo porque não me faz bem nenhum. Bebo muita água, gosto muito de gengibre, mascado e por vezes em chá. E faço o aquecimento normal de voz antes de cantar."