terça-feira, 15 de novembro de 2016

Licínia Quitério_"A Ignorância"

Nesse tempo eu pouco sabia 
De filósofos ou de colheitas tardias
E menos ainda de contas correntes
Ou de novas galáxias
Redondo era o mundo e
Eu girava girava
Dançava dançava muito
Em redor de mim
Em redor da saia que rodava
E chorava porque
O coelhinho branco morrera 
Ou o rapaz afinal tinha outra namorada
Queria que o meu cabelo embranquecesse 
E eu fingisse de velha
De uma velhice mais bonita
Que a minha mocidade
Nada sabia da morte das abelhas
E menos ainda da vida 
Depois de muitas mortes
Conhecia vagamente os nomes de cidades
E sonhava com elas
Porque havia de as visitar
No princípio de todas as primaveras
Eu era tão ignorante 
Nesse tempo 
Agora sei os nomes das árvores da minha rua
O tamanho da estrela maior
O tempo de vida do amor
E muito mais
Confesso que pintei o cabelo 
Da cor da mocidade
Que era tão bonita e nem isso eu sabia

Licínia Quitério

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