terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

Dulce Maria Cardoso_sobre "Eliete"





Palavra de Autor 16# Dulce Maria Cardoso: “Não é por acaso que escrevo sobre a menstruação”


13.02.2019 às 10h31


Demorou sete anos a voltar. Mas fê-lo em grande. “Eliete”, o último romance de Dulce Maria Cardoso, tornou-se rapidamente um sucesso, tal como o anterior. O “retorno” da escritora acontece com a história de uma mulher, que vive uma vida normal, urbana, nas franjas do Tinder, e das experiências eróticas que a aplicação lhe proporciona. E que começa menina, com vergonha do corpo feminino e dos seus ciclos. O livro é o primeiro de uma possível trilogia (ou de um romance em contínuo), ancorada na realidade portuguesa, no passado e no presente, nos maus poemas de Salazar, a que a escritora rouba frases e títulos. Neste Palavra de Autor, Dulce Maria Cardoso lê passagens de “Eliete” e fala com Cristina Margato, também sobre o que pode ser o segundo volume, a publicar na Tinta da China, ainda em 2019



CRISTINA MARGATO


Eliete cresceu na ressaca de quarenta e oito anos de ditadura e descobriu-se livre e inteira na era do Tinder, do WhatsApp, do Facebook, e do Instagram. Personagem quase exclusiva do último romance de Dulce Maria Cardoso, Eliete é uma mulher solitária, que dá corpo à solidão de muitas mulheres acompanhadas. Uma mulher que cresceu dominada pelo medo do seu próprio corpo, que casou com o primeiro homem que julgou gostar, e que no meio do golo do Éder no Europeu se descobriu profundamente isolada, sozinha.

Eliete é também uma marioneta que acompanha as ondas de especulação imobiliária, que ora atiram os remediados para a margem da cidade, ora os alimentam, porque lhes dão trabalho, e heroína de uma narrativa colada à “linha”, aos arrabaldes de Cascais, aos hotéis de encontros no IC19, aos bairros de construção económica onde foram viver os retornados, ao Shopping, aos cadernos da Hello Kitty, ao ZX Spectrum, às fotonovelas e à memória dos romances de Konsalik que a mãe comprava ao homem do Círculo de Leitores.

Neste episódio do Palavra de Autor, Dulce Maria Cardoso lê partes deste romance que recebe como título o nome da sua personagem central. Partilha alguns dos seus obsessivos métodos de escrita e algumas das suas preocupações feministas. Explica ainda como andou a roubar maus poemas a Salazar.



Dulce Maria Cardoso nasceu em Trás-os-Montes, em 1964. Cresceu em Angola e regressou a Portugal na adolescência. Licenciou-se em Direito. Publicou o primeiro livro em 2001, “Campo de Sangue”, Prémio Acontece. Seguiu-se “Os Meus Sentimentos”, em 2005, prémio da União Europeia para a Literatura. “O Chão dos Pardais”, em 2009, Prémio Pen Clube.

Publicou dois livros de contos, e dois livros infanto-juvenis. Em 2011, publicou “O Retorno”, o último sucesso antes de “Elite”, publicado no final de 2018.

Recebeu as Insígnias de Cavaleira da Ordem das Artes e das Letras de França.


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