quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Pleonasmite


Pleonasmite

Todos ou quase todos os portugueses sofrem de “pleonasmite”. Uma doença congénita para a qual não se conhecem nem vacinas nem antibióticos. Não tem cura, mas também não mata. Mas, quando não é controlada, ‘chateia  bastante quem convive com o paciente.
Os sintomas são a verbalização de pleonasmos ou redundâncias que, com o objectivo de reforçar uma ideia, acabam por lhe conferir um sentido quase sempre patético.


Definição confusa? Aqui vão quatro exemplos óbvios: Subir para cima”, “descer para baixo”, “entrar para dentro” e “sair para fora”.


Já se reconhece como paciente de pleonasmite? Ou ainda está em fase de negação? Olhe que há muita gente que leva uma vida a pleonasmar sem se aperceber que pleonasma a toda a hora.


Vai dizer-me que nunca “recordou o passado”? Ou que nunca está atento aos “pequenos detalhes”? E que nunca partiu uma laranja em “metades iguais”? Ou que nunca deu os  “sentidos pêsames” à “viúva do falecido”?

Atenção que o que estou a dizer não é apenas a minha “opinião pessoal”. Baseio-me em “factos reais” para lhe dar este “aviso prévio” de que esta “doença má” atinge “todos, sem excepção”.


O contágio da pleonasmite ocorre em qualquer lado. Na rua, há lojas que o aliciam com “ofertas gratuitas”. E agências de viagens que anunciam férias em “cidades do mundo”. No local de trabalho, o seu chefe pede-lhe um “acabamento final” naquele projecto. Tudo para evitar “surpresas inesperadas” por parte do cliente. E quando tem uma discussão mais acesa com a sua cara-metade, diga lá se às vezes não tem vontade de “gritar alto”: “Cala a boca!”?

O que vale é que depois fazem as pazes e vão ao cinema ver aquele filme que “estreia pela primeira vez” em Portugal.

E se pensa que por estar fechado em casa ficará a salvo da pleonasmite, tenho más notícias para si. Porque a televisão é, de “certeza absoluta”, a“principal protagonista” da propagação deste vírus.


Logo à noite, experimente ligar o telejornal e “verá com os seus próprios olhos” a pleonasmite em directo no pequeno ecrã. Um jornalista irá dizer que a floresta “arde em chamas”. Um treinador de futebol queixar-se-á dos “elos de ligação” entre a defesa e o ataque. Um “governante” dirá que gere bem o “erário público”. Um ministro anunciará o reforço das “relações bilaterais entre dois países”. E um qualquer “político da nação” vai pedir um “consenso geral” para sairmos juntos desta crise.

E por falar em crise! Quer apostar que a próxima manifestação vai juntar uma “multidão de pessoas”? Ou então, vai abrandar a condução, ao ver um acidente de viação, e ouve na rádio, “trânsito muito parado”.


Ao contrário de outras doenças, a pleonasmite não causa “dores desconfortáveis” nem “hemorragias de sangue”. E por isso podemos “viver a vida” com um “sorriso nos lábios”. Porque um Angolano a pleonasmar, está nas suas sete quintas. Ou, em termos mais técnicos, no seu “habitat natural”.


Mas como lhe disse no início, o descontrolo da pleonasmite pode ser ‘chato’ para os que o rodeiam e nocivo para a sua reputação. Os outros podem vê-lo como um redundante, que só diz banalidades. Por isso, tente cortar aqui e ali um e outro pleonasmo. Vai ver que não custa nada. E “já agora” siga o meu conselho: não “adie para depois” e comece ainda hoje a “encarar de frente” a pleonasmite!

Ou então esqueça este texto. Porque afinal de contas eu posso estar só “maluco da cabeça”.

 Autor desconhecido e alguma ‘ajuda’ minha

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