quinta-feira, 27 de setembro de 2018

Eugénia de Vasconcellos_Despedida

Despedida

DESPEDIDA

Podes ficar com os Teus exércitos
e suas espadas flamejantes,
arcanjos à frente,
anjos ao centro,
voz do Espírito adiante;
e com os Teus milagres,
protecções, provações, profecias;
e com a inamovível montanha -
a semente de mostarda, devolvo-Ta.
Pelo baptismo, renunciamos ao mal,
pela vida ao bem prometido.
A ti, e eu chamava-te Amor,
lugar onde amanheciam todos os prodígios,
devolvo-te os futuros cancelados
como qualquer outro voo.
Aos meus pares, amados iguais
neste pacto de sangue a preto e branco
a correr pelas páginas:
aprendi, para o bem, o que não vem,
e para o mal, a que renunciei,
sou ímpar, estou só.
Nada mais tenho a devolver
além do corpo de hoje, amanhã pó.
Fecho a porta. Entrego a chave.
Adeus.

Eugénia de Vasconcellos 

1 comentário:

  1. Que despedida!
    "A ti, e eu chamava-te Amor,
    lugar onde amanheciam todos os prodígios,
    devolvo-te os futuros cancelados
    como qualquer outro voo."
    Lindo este poema de Eugénia de Vasconcellos que não conheço.
    Uma boa semana, meu Amigo.
    Um beijo.

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