quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Davide Mestre_ dois poemas

Sinal de Seda

Dois negros
timores
secretos
rubis

teus olhos
pedem
ao Ganges
por ti

O tigre
contempla
no lago
de prata

o sinal
de seda
em que

sorris.

Davide Mestre (1948-1997)

O Sol nasce a oriente

(de um quadro de Malangatana)

Povo, de ti canto o movimento
teu nome, canção feita de fronteiras
lua nova, javite ou lança
tua hora, quissange em trança

Do longo longe do tempo
arde minha flecha, meu lamento
minha bandeira de outro vento
aurora urdida nos lábios de Zumbi
De ti guardo o gesto
as conversas leves das árvores
a fala sabia das aves
o dialeto novo do silêncio
e as pedras, as palavras do medo
os olhos falantes da mata
quando a onça posta a sua arte
nos fita, guardada em sua mágoa.
De ti amo a denuncia felina
das tuas mãos quebradas ao presente
a dança prometida do sol
nascer um dia a Oriente.

in No reino de Caliban II,
antologia panorâmica de poesia africana de expressão portuguesa.

Davide Mestre

Davide Mestre_(1948-1997)


Biografia de Davide Mestre

Luís Filipe Guimarães da Mota Veiga conhecido por Davide Mestre Nasceu em Loures, Portugal em 1948 e foi para Angola com apenas oito meses de idade.
Trabalhou como jornalista e crítico literário em variados jornais e revistas de Angola, de Portugal e de outros países, coordenou diversas páginas literárias.
Em 1971 fundou e dirigiu o grupo «Poesias – Hoje», foi director do «Jornal de Angola». era membro da Associação Internacional de Críticos Literários e da União dos Escritores de Angola.
Em 1997 Davide Mestre faleceu em Almada, Portugal vítima de um acidente vascular cerebral com apenas 49 anos.
A sua obra está traduzida em várias línguas.
Obra poética:
Kir-Nan, 1967, Luanda, edição do autor.
Crónica do Gheto, 1973, Lobito, Cadernos Capricórnio;
Dizer País, 1975, Nova Lisboa, Publicações Luanda;
Do Canto à Idade, 1977, Coimbra, Centelha;
Nas Barbas do bando, 1985, Lisboa, Ulmeiro;
O Relógio de Cafucolo, 1987, Luanda, União dos Escritores Angolanos;
Obra Cega, 1991, Luanda, edição do autor
Subscrito a Giz - 60 Poemas Escolhidos, 1996, Lisboa, Imprensa Nacional - Casa da Moeda

in: http://www.lusofoniapoetica.com/


1 comentário:

  1. Gostei dos poemas do Davide Mestre. Está em falta na minha estante de poesia. Tenho que corrigir isso...
    Uma boa semana.
    Um beijo, meu Amigo.

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