terça-feira, 31 de maio de 2016

Pai

À memória de meu pai, no centenário do seu nascimento

Hoje pensei na solidão dos pássaros
quando as searas se incendeiam. 
E pensei em ti, pai, que partiste tão cedo
 como se tivesses vindo do lado 
mais desolado das sombras. 
O que sei eu das uvas entre os teus dentes 
no tempo das vindimas? 
Que pássaro de cinza, diz, 
te sobrevoou o verde do olhar? 
Se prolongasse o poema 
dir-te-ia como os meus olhos te lembram. 
Mas não posso. Vou devolver ao mar 
as conchas negras da minha colecção.
Graça Pires
De Caderno de significados, 2013
Publicado por Graça Pires 

Sem comentários:

Enviar um comentário