À memória de meu pai, no centenário do seu nascimento
Hoje pensei na solidão dos pássaros
quando as searas se incendeiam.
E pensei em ti, pai, que partiste tão cedo
como se tivesses vindo do lado
mais desolado das sombras.
O que sei eu das uvas entre os teus dentes
no tempo das vindimas?
Que pássaro de cinza, diz,
te sobrevoou o verde do olhar?
Se prolongasse o poema
dir-te-ia como os meus olhos te lembram.
Mas não posso. Vou devolver ao mar
as conchas negras da minha colecção.
Graça Pires
De Caderno de significados, 2013
Publicado por Graça Pires
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