segunda-feira, 9 de junho de 2014

“O canto de Agnes” por YANG Mija



Como é isso por aí?
Sentes-te muito só?
Ainda vês o clarão avermelhado do anoitecer?
Os pássaros ainda cantam a caminho da floresta?
Ainda os ouves?

Aceitas esta carta que me atrevi a mandar?
Posso transmitir-te a confissão que não ousei fazer?
Passará o tempo?
Fenecerão as rosas?
É chegada a hora
De dizer adeus.

Como a brisa que se demora
Para depois partir
Tal como as sombras
Às promessas que nunca chegaram
Ao amor selado até ao fim
Às ervas
Que me beijam os tornozelos
Os minúsculos passinhos
Que me seguem
É chegada a hora
De dizer adeus.

Agora que a noite cai
Voltar-se-á a acender alguma vela?
Aqui rezo

Ninguém derramará lágrimas
Ninguém mais sofrerá
E para que saibas
Quanto te amei
A longa espera
Em pleno e escaldante dia de Verão
Um velho caminho
Que lembre o rosto do meu pai
Até que a mais solitária flor silvestre
Timidamente se recolherá
Quão profundamente amei
Ao ouvir tua ténue canção
Como estremeceu o meu coração
Abençoo-te

Antes de atravessar este sombrio rio
Com o último fôlego da minha alma
Começo a sonhar
Com uma soalheira
E luminosa manhã
Onde mais uma vez acordo
Ofuscada pela luz
Para te encontrar

À minha frente.

(único poema escrito pela Autora, da Koreia do Sul,
já sexagenária, antes de se suícidar)

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