sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

Leonel Cosme



Morreu o escritor Leonel Cosme, 
autor de "A Revolta"


Tinha 86 anos. As cerimónias fúnebres realizam-se esta sexta-feira.

PorLusa


Quando eu morrer ponham-me num museu
que o meu lugar é aí.
Coloquem na vitrina este letreiro:
“Espécie rara de tipo invertebrado
verdadeiramente fenomenal.
Fez poesia. Cursou a Faculdade. Sofreu
entre outras coisas, ausências de dinheiro,
e, como os humanos, pensou no Bem e Mal.
Chegou a convencer-se que era gente.
Mas morreu.
E por tudo isso que o fez diferente
dos outros invertebrados
veio parar à sala de um museu”

18-12-57

Quando eu me for
Seja um fim de tarde
Quando o sol já perde o fulgor
E já não arde.
Que me vá devagarinho
Suavemente
Como pétala de flor
A cair sobre o tampo
De uma mesa
Sem tristeza
Nem dor
Apenas como um eco
Que se cala.

03-03-08

"Há um tempo de chegar e um tempo de partir... Chegou a hora de o meu pai, Leonel Cosme, partir", escreve a filha Ariana Cosme, na sua página do Facebook.

Na publicação, Ariana Cosme recorda que o pai deixou escrito no seu último livro "Homo Sum: Tempo de Partir e Chegar" (no prelo na Unicepe) a sua última vontade: "Quando eu morrer quero apenas sobre a campa uma lápide ou tampa com o meu nome, pois ele diz o que eu valer (...)".


Leonel Cosme nasceu em Guimarães, em 1934, e viveu 30 anos em Angola, para onde partiu, em 1950, com a família.

Radicou-se naquela então colónia portuguesa, onde foi funcionário público e exerceu jornalismo, tendo regressado a Portugal em 1975.

Em 1982, voltou a Angola e ali permaneceu até 1987, ano em que regressou definitivamente a Portugal.

Prosseguiu, no Porto e em Lisboa, a atividade jornalística que já desenvolvia em Angola, na imprensa e na rádio, e, em 1990, retirou-se do jornalismo profissional para se dedicar à atividade literária, representada por colaboração em jornais e revistas da especialidade, obras de ficção e ensaio histórico-literário.

Publicou as novelas "Um Homem na Rua" (1958) e "A Dúvida" (1961), os contos "Quando a Tormenta Passar" (1959) e "Graciano" (1960), e ainda o livro de poemas "Ecce Homo" (1973).

No domínio do ensaio, publicou "A Separação das Águas - Angola 1975-1976", "Cultura e Revolução em Angola" (1978), "Agostinho Neto, a Poesia e o Homem" (1984), "Muitas são as Áfricas" (2006).

Escreveu ainda uma 'pentalogia', genericamente intitulada "A Revolta", iniciada na década de 1980, de que fazem parte títulos mais recentes como "A Terra Da Promissão" e "A Hora Final".

Em Angola, colaborou na revista Cultura, de Luanda (1957-1961), e no Boletim Cultural de Huambo, publicado na então cidade de Nova Lisboa (1948-1974) e foi um dos fundadores e diretor das Edições Imbondeiro, de Sá da Bandeira (hoje Lubango), onde prefaciou e publicou, em parceria com Garibaldino de Andrade, as que foram consideradas -- pelo conteúdo e pelo momento histórico da edição -- as mais importantes antologias da nova literatura angolana: "Contos d' África" (1961), "Novos Contos d'África" (1962) e "Antologia Poética Angolana" (1963).

Leonel Cosme é também o autor do catálogo da Primeira Exposição de Bibliografia Angolana (Sá da Bandeira, hoje Lubango, 1962), com cerca de 700 títulos distribuídos por seis áreas: História e Sociologia, Etnografia, Literatura e Ficção, Viagens e Narrativas, Vários Estudos, Antropologia.

Participou em congressos, seminários e colóquios, promovidos, designadamente, por institutos universitários de Portugal, do Brasil e de Itália.



1 comentário:

  1. Parece impossível mas não conhecia Leonel Cosme. Mas gostei imenso dos poemas aqui publicados. Obrigada, Amigo por ter partilhado.
    Cuida-te bem.
    Uma boa semana.
    Um beijo.

    ResponderEliminar