UMA GAIVOTA ÊXUL...
Uma gaivota êxul morreu no Mar...
E o seu corpo, de cândida energia,
Sobre uma onda veio naufragar
Ao cais d´onde partira, certo dia...
Tinha as asas abrindo ao vento...O peito
Arqueado ainda, como se aspirasse
O perfume do largo - e insatisfeito
Mais distância quisesse e conquistasse.
E em seus olhos, que a Morte não cerrara,
Tanto a sede do ignoto os desvairou
- Fiquei-me a adivinhar a visão clara
D´um mundo que só ela desvendou...
Nesta doce manhã de Primavera
Não entristece vê-la morta, assim :
- Voo quebrado à hora da quimera,
Quando a vida parece não ter fim...
É que nesse cadáver pequenino,
Crispado num tormento quase humano,
Não se apaga a alegria dum destino
Que foi Sol, que foi Céu, que foi Oceano !...
Ah ! pudesse eu morrer de igual loucura,
Na avidez de voar e de partir,
Com asas de ansiedade e de aventura
Entre a graça de espumas a florir !...
Mas que o embalo das ondas não me traga
Ao porto onde embarcar o meu desejo :
- Que uma vaga me leve, que uma vaga
Á distância me enlei o último beijo...
Pois eu quero julgar que o ritmo ardente
Do meu sangue, sequioso de paixão,
Fica no Mar pulsando eternamente :
- Como se fosse o Mar que sonha e sente
O sangue do meu próprio coração !...
João de Barros
Sem comentários:
Enviar um comentário