Com a devida vénia, AQUI as perguntas a que também eu gostaria de ver respondidas:
"14 agosto 2019
será que alguém me pode explicar algumas coisas sobre a famosa greve?
Só mesmo a minha insularidade (ou talvez a bolha em que me movo) poderá explicar as minhas perplexidades perante a greve dos motoristas de camiões de matérias perigosas. Por favor, expliquem-me como se eu fosse uma estrangeirada de cinquenta anos:
1. É mesmo verdade que as pessoas que conduzem autênticas bombas pelas nossas estradas e pelo meio das nossas cidades têm um salário de base de 600 euros por mês?
2. É mesmo verdade que se aceita como prática normal que as pessoas que conduzem autênticas bombas nas nossas estradas e pelo meio das nossas cidades trabalhem entre 15 e 18 horas por dia?
3. Como é que se contam as horas extraordinárias? Como é que se chega a um período de 15 a 18 horas de trabalho diário que parece ser normal na profissão? Também são contadas as horas em que um condutor dorme num hotel, ou na cabine do camião? E as horas em que fica parado junto à auto-estrada a fazer horas até poder conduzir de novo? Quantas horas diárias é que, no total, um condutor pode conduzir realmente o seu veículo? Como é que se assegura que tem condições para descansar e se restabelecer, de modo a continuar a conduzir com segurança?
4. Porque é que as empresas não contratam mais condutores e não pagam um salário de base decente a cada um deles? O que impede estes motoristas de trabalharem apenas 8 horas por dia?
5. Será que estas condições de trabalho são impostas para conter os custos da distribuição? Se for esse o caso, parece-me que a preocupação está a ficar ultrapassada: a tendência futura será aumentar o preço dos combustíveis até eles reflectirem realmente todos os custos explícitos e implícitos - em particular os ligados à destruição ambiental - de modo a obrigar todos os agentes do sistema a inflectir as lógicas de produção, de transporte, e de mobilidade individual e nos processos de produção.
6. Qual é a margem de manobra de um governo perante um conflito destes entre patrões e assalariados?
- Deve o governo impor aos patrões tarifas e regras que constituam melhor garantia da segurança pública? (Ui, já estou a imaginar o coro de "PS = Estalinistas!" que se ia ouvir...)
- Ou deve simplesmente impor o cumprimento das regras existentes? Se bem entendi, neste momento já todos os motoristas esgotaram as horas extraordinárias que podiam fazer em 2019, pelo que seria de esperar que de agora até ao fim deste ano os transportes não sejam suficientes, uma vez que os condutores já só podem trabalhar 8 horas por dia.
- Se o governo não se tivesse metido no assunto, deixasse que o combustível pura e simplesmente esgotasse nos postos de abastecimento e deixasse o país à espera que patrões e assalariados se entendessem, não seria também acusado de incumprimento dos seus deveres perante o povo português?
(Perante as críticas ao governo que têm surgido de todos os lados, só me ocorre a história "O Velho, o Rapaz e o Burro". Todos têm razões, todos se sentem com razão - mas gostava muito de saber o que faria cada um deles se estivesse no lugar do António Costa, e como estaria preparado para se responsabilizar pelas consequências da sua decisão.)
7. Porque é que os jornalistas não nos explicam estas coisas essenciais, e nos gastam o tempo e a paciência com ruído alarmista que só serve para criar e alimentar polémicas e discórdias?
Helena Araújo"
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