segunda-feira, 10 de junho de 2019

Entardecer Moçambicano_ José Mathias Ferreira Júnior


Entardecer Moçambicano

No quintal vedado, por finos bambus
na lângoa colhidos;
Mulata galante se estira dengosa
ouvindo à distância, rolinha chorosa
soltar seus gemidos.

Uns passos adiante, em longas cadeiras
de lona, encostados;
Vivazes Mucunhas alargam uma roda
e os copos levantam, de whisky com soda,
aos lábios crestados.

Na areia inda quente do sol a morrer
p’ra lá dos coqueiros;
Airosas galinhas uns grãos depenicam
e alisam as penas, as patas esticam
mirando os poleiros.

Nas olas esguias das altas palmeiras
que a aragem meneia;
Seu canto suave, dolente magoado,
um lindo, plumoso, assaz delicado
chirico gorgeia.

Ao longe, na estrada que a chuva esbarronda
em meses de estio;
Um ai! de fadiga a custo sustido,
ao som do apito, o labor vencido,
desprende o gentio.

A tarde esmorece; e ri a mulata
na esteira deitada.
A vida não cansa, não pesa é melosa
Pra linda mulata, sabida, manhosa,
do branco amparada.

A tarde esmorece; o branco dedilha
gemente guitarra.
Em roda descantam amigos as trovas,
Mas todas amargas e não descuidosas
como as da cigarra.

Porquê? Porque cantam tristezas sem fim
sem conto, afinal?
É porque no peito só têm saudades
das vilas, dos campos, das mesmas cidades
do seu Portugal.

José Mathias Ferreira Júnior

[Antologias de Poesia da Casa dos Estudantes do Império - II Volume]
(in «Oriente»)

1 comentário:

  1. Tenho vindo a aperceber-me que não tenho muito conhecimento da poesia africana. Tenho que remediar isso. Gostei do poema de José Mathias Ferreira Júnior.
    Uma boa semana, meu Amigo.
    Um beijo.

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