Entardecer Moçambicano
No quintal vedado,
por finos bambus
na lângoa colhidos;
Mulata galante se
estira dengosa
ouvindo à distância,
rolinha chorosa
soltar seus gemidos.
Uns passos adiante,
em longas cadeiras
de lona, encostados;
Vivazes Mucunhas
alargam uma roda
e os copos levantam,
de whisky com soda,
aos lábios crestados.
Na areia inda quente
do sol a morrer
p’ra lá dos
coqueiros;
Airosas galinhas uns
grãos depenicam
e alisam as penas, as
patas esticam
mirando os poleiros.
Nas olas esguias das
altas palmeiras
que a aragem meneia;
Seu canto suave,
dolente magoado,
um lindo, plumoso,
assaz delicado
chirico gorgeia.
Ao longe, na estrada
que a chuva esbarronda
em meses de estio;
Um ai! de fadiga a
custo sustido,
ao som do apito, o
labor vencido,
desprende o gentio.
A tarde esmorece; e
ri a mulata
na esteira deitada.
A vida não cansa, não
pesa é melosa
Pra linda mulata,
sabida, manhosa,
do branco amparada.
A tarde esmorece; o
branco dedilha
gemente guitarra.
Em roda descantam
amigos as trovas,
Mas todas amargas e
não descuidosas
como as da cigarra.
Porquê? Porque cantam
tristezas sem fim
sem conto, afinal?
É porque no peito só
têm saudades
das vilas, dos
campos, das mesmas cidades
do seu Portugal.
José Mathias Ferreira Júnior
[Antologias de Poesia da Casa dos Estudantes do Império - II Volume]
[Antologias de Poesia da Casa dos Estudantes do Império - II Volume]
(in «Oriente»)
Tenho vindo a aperceber-me que não tenho muito conhecimento da poesia africana. Tenho que remediar isso. Gostei do poema de José Mathias Ferreira Júnior.
ResponderEliminarUma boa semana, meu Amigo.
Um beijo.