terça-feira, 15 de maio de 2018

O Perfume do Verso: Palavras Selvagens

O Perfume do Verso: Palavras 
Selvagens:

(Publico aqui, com a devida vénia, este belo poema, que não consigo comentar. Assim, acrescento, a seguir, como comentário, a inspiração que me suscitou.)

Palavras Servagens

Somos cor e pele, fragas expostas
Aos raios de sol e de lua.
E pelas geadas reluzimos mocidade.
Ainda que rugosas.

Tocamos caminhos desafiantes
E o sentido não tem perigo
Se tivermos asas no pensamento
E do vento a cumplicidade.

Sorve-se o instante, joga-se o olhar
E as contas são de vida e fantasia.
E de neve os passadiços.
Escorregadios anos.

As palavras partem selvagens
A planar esculturas, sentinelas do tempo.
Aragem do verso que se prende
E ousadia de ave que o rio bebe.

Teresa Almeida Subtil



Trás-os-Montes

porque me fazes natureza
e chamas por mim
nesse transversal olhar?

vislumbro longe a beleza
duma paisagem rural.

de mim nada precisas
a não ser colher os frutos
e, nas palavras semeadas
doutros serão elas criadas.

de ti posso dizer
que sem mim podes viver.

leio-te
caminho esquecido
nesta urbe passadiça 
onde o tempo fechado
cobre horizontes.

na raiz
a poesia natural 
eclode 
nos aromas silvestres
nos ruídos canónicos
nas cores matizadas
e todos os sentidos 
despertam
entre serras e vales.

canso a razão 
só de pensar, que há outro lugar
com existência
longe do mar...

e das gentes temperadas
pelos elementos
toda a pele é matriz
toda a vontade se faz.

lm_15.mai.2018

2 comentários:

  1. Com a devida vénia, levo este carinho e a força do seu poema, Luís Castanheira. Transparece nele o chamamento da alma transmontana.
    Reconhecida, deixo um abraço bem arrochado.

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  2. A Teresa escreve muito bem e tu fizeste as honras ao poema dela com este magnífico "Trás-os-Montes".
    Uma boa semana.
    Um beijo.

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