terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Suzete Brainer_ conto/poesia


A Menina de Cabelos de Sol...
























Depois de saboroso lanche feito com seus doces caseiros e o bolo da vovó, sentávamos, na cadeira grande de balanço, eu com 7 anos, no seu colo, à hora das histórias inventadas por ela, como música na construção do meu imaginário e na marcação do som, a cadeira de balanço no ritmo da minha curiosidade infantil acelerada ...






“Era uma vez uma menina dos cabelos de sol, loiros e longos até a cintura. Morava no mundo do Sol, tudo lá era dourado e brilhante... Não existiam brigas, todo mundo falava pelo pensamento e no pensamento, as palavras são mansas, moram bem perto do coração. A menina e sua família viviam felizes e lá todas as famílias eram felizes. Todas as casas tinham jardins de rosas de todas as cores e perfumes. Não tinha noite, pois o Sol é que regia sempre; uma vez a um ano tinha uma Lua cheia que ficava por 7 dias e ela e o Sol ficavam juntos, como uma dança. Alguns momentos ficavam noite com clarão da Lua e outros dia com o Sol regendo. Um dia o Sol brigou com a Lua cheia e todos foram atingidos por essa briga. Ninguém mais entendia o outro. As famílias começaram a brigar todos os dias. Quem foi mais atingida foram as rosas e todas morreram: algumas queimaram, outras murcharam e se despetalaram... A menina, que era muito amiga das rosas, ficou muito triste e nunca tinha conhecido a tristeza. Os seus olhos ficaram sem brilho, a sua voz sem o canto e não queria mais dançar. Enquanto todos brigavam, ela, a única que ficava calada e triste num canto do jardim sem rosas... “






Eu queria saber o que aconteceu com a menina e a minha avó me fazia esperar para outra tarde de sessão de histórias inventadas e contadas por ela. Eu aguardava esta tarde com os meus olhos brilhando de curiosidade, imaginava que o tempo era muito chato e não gostava de histórias, pois demorava tanto para chegar o dia... Ficava perguntando as horas para minha mãe e ela, intrigada, me dizia: "que tanto eu queria saber das horas?...”






Quando cheguei à casa da minha avó, de imediato fui para cadeira de balaço, argumentando que precisava saber da menina dos cabelos de sol e o lanche ficaria para depois da história contada... Ela riu, dizendo que eu tinha fome de história imaginada!...






“A menina dos cabelos de sol estava muito fraquinha, não queria mais abrir os olhos para o mundo desmantelado daquele... Nem a mãe dela notava que a tristeza nela, estava sugando a sua luz-vida, todos continuavam na animação para as brigas de dia e de noite, de noite e de e dia... Foi quando o Sol resolveu se separar de vez da Lua cheia e, assim: os dias ficaram com o Sol e as noites com a Lua, mas a Lua muito contrariada com a decisão do Sol, resolveu se expressar por períodos, os seus sentires femininos na oscilação das vibrações. Ela passou a influenciar as marés e o mundo do Sol nunca mais ficou o mesmo. Todos se acostumaram com o mundo do Sol desfeito, mas ela não. Um dia bem cedinho, antes de o Sol nascer, ela fugiu para dentro dele e hoje aqueles raios do Sol, fininhos, são os cabelos dela!...”






Enquanto comia o meu lanche, não parava de pensar na menina e






perguntei a minha avó:


- A menina ficou alegre lá. Naquele lugar a tristeza nunca mais vai entrar nela, né isso, minha avó?


- Ela pode ser maior que a tristeza! (minha bonequinha...)


-A senhora devia contar essa história para Mainha e meu Pai pararem de brigar. Os adultos brigam muito! Nós, crianças, quando brigamos, fazemos as pazes logo...


-É, minha querida, as crianças sabem brincar com a vida!...


-Vou brincar com as minhas bonecas e todas irão morar no mundo do Sol, quando não foi desfeito...


-Vó, quando tiver bem chato lá em casa, eu voo até o Sol e fico com os meus cabelos junto com os cabelos da menina!...


- Sim. A menina era parecida com você!...


- Você sabe como voar?


- Sei, Vó. É fechando os olhos e imaginando!...


- Isso, minha bonequinha!...






Suzete Brainer


(Direitos autorais registrados)





4 comentários:

  1. Muito grata pela tua generosidade e apreço
    ao meu texto, amigo!
    Um beijo.

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  2. Suzete Brainer é uma talentosa escritora e poeta,
    cujo trabalho de escrita, que admiro há muitos meses, merece a maior divulgação .

    este texto é belíssimo
    fica bem neste espaço

    abraço

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  3. Luís, amigo

    Permita-me, agradecer este generoso e valoroso
    comentário do nosso amigo Manuel Veiga, que
    me deixou muito sensibilizada...

    Muito obrigada pelas tuas palavras generosas,
    meu amigo Manuel!!
    Beijo.

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  4. Realmente, o anjo tem razão. Perguntaram a uma menina doente o que seria a morte, e ela respondeu que seria como quando a gente dorme na cama dos pais e acorda na cama da gente porque alguém nos l evou para lá. Grande abraço. Laerte.

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