Volta
até Mim
"Vem
ver-me antes que morra de amor – o sangue
arrefece
dentro do meu corpo e as rosas desbotam
nas
minhas mãos. Da minha cama ouço a tempestade
nos
continentes; e já quis partir, deixar que o vento
levasse
a minha mala por aí; fiz planos de correr mundo
para
te esquecer – mas nunca abria a porta.
Vem
ver-me enquanto não morro, mas vem de noite –
a
luz sublinha a agonia de um rosto e quero que me recordes
como
eu podia ter sido. Da minha cama vejo o sol
tatuar
as costas do meu país; e já sonhei que o perseguia,
que
desenhava o teu nome no veludo da areia e sentia
a
vida a pulsar nessa palavra como o músculo tenso
escondido
sob a pele – mas depois acordava e não ia.
Vem
ver-me antes que morra, mas vem depressa –
os
livros resvalam-me do colo e o bolor avança
sobre
a roupa. Da minha cama sinto o perfume das folhas
tombadas
nos caminhos. O Outono chegou. E o quarto
ficou
tão frio de repente. E tu sem vires. Agora
quero
deitar-me no tapete de musgo do jardim e ouvir
bater
o coração da terra no meu peito. Os vermes
alimentam-se
dos sonhos de quem morre. E tu não vens."
Maria
do Rosário Pedreira
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