quinta-feira, 25 de novembro de 2021

Eliana Potiguara_Brasil

Brasil

Que faço com minha cara de índia?
E meus cabelos
E minhas rugas
E minha história
E meus segredos?


Que faço com minha cara de índia?
E meus espíritos
E minha força
E meu Tupã
E meus círculos?


Que faço com minha cara de índia?
E meu toré
E meu sagrado
E meus “cabocos”
E minha Terra?


Que faço com minha cara de índia?
E meu sangue
E minha consciência
E minha luta
E nossos filhos?


Brasil, o que faço com minha cara de índia?


Não sou violência
Ou estupro


Eu sou história
Eu sou cunha
Barriga brasileira
Ventre sagrado
Povo brasileiro.


Ventre que gerou
O povo brasileiro
Hoje está só...
A barriga da mãe fecunda
E os cânticos que outrora cantavam
Hoje são gritos de guerra
Contra o massacre imundo.

- Eliane Potiguara, no livro "Metade Cara, Metade Máscara". Grumin Edições, 2018, p. 32-33.

1 comentário:

  1. Um poema muito profundo e reflexivo de Eliana Potiguara. Gostei imenso.
    Cuidem-se bem.
    Uma boa semana.
    Um beijo.

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