segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

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 DAQUI:



A loucura, meu bem,
foi tentar agarrar o canto dos pássaros
e a nudez dos ramos,
a ouvir histórias do vento que passa.
Entender na imagem o murmúrio das folhas caídas, um manto de preces a proteger raízes.
Esta foi a loucura, meu bem,
querer oferecer-te numa imagem
a magnífica sinfonia das árvores.
E trazer aos teus olhos, nada mais,
que o silêncio que atravessa a ponte...




Sónia Micaelo
(Texto e imagem)

terça-feira, 15 de dezembro de 2020

Fascismo_Opinião





DAQUI: Germano Oliveira, 

in Expresso Curto

"O QUE EU ANDO A LER
Sou filho de feirantes, à segunda tínhamos a feira de Espinho onde os meus pais conheceram o Germano Augusto de quem herdei esses dois nomes ao escolheram-no para meu padrinho quando nasci, foi uma circunstância que veio a ter uma coincidência - o restaurante que se tornou o meu preferido das minhas segundas-feiras de criança em Espinho chamava-se O Padrinho, a vida tem redundâncias tão bonitas; sou filho de feirantes, à terça não havia feiras para nós porque era dia de planear as seguintes e de fazer a contabilidade do que se ganhou nas anteriores mas à quarta era a feira dos Carvalhos, foi lá que o meu pai me deixou ir a uma loja subscrever a TV Cabo porque ele não tinha dinheiro para me levar ao mundo mas deixou que eu tivesse dezenas de canais para que o mundo se mostrasse a mim, a vida tem criatividades financeiras tão bonitas; sou filho de feirantes e à quinta era a feira de Pedras Rubras que tinha o nome do aeroporto que agora é Francisco Sá Carneiro e onde eu sonhava viagens naqueles aviões em que nunca pensei ter a possibilidade de entrar mas tive, a primeira vez que voei foi porque me tinha tornado atleta e era preciso um avião para me levar à competição e pagaram-me tudo, então o meu pai veio comigo para nos comovermos a voar sobre Pedras Rubras, a vida tem retribuições tão bonitas; sou filho de feirantes e às vezes não se ia a Pedras Rubras às quintas-feiras porque era necessário ir a Vigo comprar centenas de gomas e dezenas de brinquedos baratos para se venderem mais caros nas feiras de Portugal, eram excursões na camioneta do Sousa que seduzia sempre alguma mulher naquelas viagens, eu queria ser como o Sousa toda a gente queria, o Sousa era alto simpático elegante e conduzia depressa, a vida está cheia de Sousas que nos fazem querer ser mais bonitos; sou filho de feirantes e às sextas era a feira de Santana, enquanto o meu pai vendia bolos de teixeira eu metia-me dentro do velhinho minicamião Mitsubishi dele e fazia daquela cabine a minha feira do livro, Álvaro Magalhães Enid Blyton Ana Maria Magalhães Isabel Alçada, o mundo era uma aventura no Mitsubishi, a vida dá-nos memórias tão bonitas; sou filho de feirantes e ao sábados e domingos não se vendia nas feiras mas na Ribeira do Porto, a Rosa Manca e a Dolores eram as rainhas das vendas daqueles fins de semana e o meu pai o rei do pão, às vezes o Reinaldo Teles e o Pinto da Costa apareciam lá e chamavam Bento Padeiro ao meu pai e eu passei a fazer igual, em vez de pai chamava-lhe Bento, na verdade senhor Bento, sou um institucionalista desde cedo e a minha primeira grande instituição foi aquele padeiro-pai, a vida às vezes dá-nos laços de sangue tão fortes e bonitos.

Mas porque escrevo isto?, não há dramas nem convulsões no que expliquei até aqui, que interessa então?, “o homem moderno necessita de ruído, de excitação constante, quer satisfazer as suas necessidades. Como nos tornámos cada vez mais insensíveis, necessitamos de métodos mais grosseiros de satisfazer a nossa ânsia de estimulação. (...) Fomos intoxicados pela ideia de que tem de acontecer alguma coisa, estamos obcecados com a velocidade e a quantidade”, pois eu podia ter proporcionado isso se quisesse escrever sobre pistolas heroína roubos agressões detenções ou afins, as feiras onde cresci tinham disso tudo mas também o seu oposto, bondade solidariedade abnegação dignidade lealdade e qualidades afins, mas quando se cresce num contexto anormal procuramos ansiosamente agarrar-nos ao que há de mais normal, é uma questão de sanidade e sobrevivência, é escolher entre a serenidade ou a violência, e é por isso que qualquer detalhe banal se transforma num acontecimento fenomenal, a banalidade é tão subestimada então que se sobrestime, e é por isso que quando nos tornamos adultos depois disto ficamos tão necessitados do normal e ainda mais preocupados com o anormal, qualquer detalhe aparentemente inofensivo transforma-se num acontecimento repulsivo, veja isto que andei a ler:

a nossa constituição começa assim, “A 25 de Abril de 1974, o Movimento das Forças Armadas, coroando a longa resistência do povo português e interpretando os seus sentimentos profundos, derrubou o regime fascista”, é preciso chamar os regimes pelos nomes, fascista, isso, era fascismo sim, fascismo que na versão simplista dos dicionários online é “uma ideologia política ultranacionalista e autoritária caracterizada por poder ditatorial, repressão da oposição por via da força e forte arregimentação da sociedade e da economia”, mas há um partido que pretende mudar a nossa Constituição para que ela comece assim, “A 25 de Abril de 1974, o Movimento das Forças Armadas, coroando a longa resistência do povo português e interpretando os seus sentimentos profundos, derrubou o regime vigente”, reparem, o regime não era fascista mas vigente, o povo não mandou abaixo o fascismo mas o vigentismo, é uma suavização hostil feita de maneira subtil, “uma variante do fenómeno da negação é a ideia de que mudar as palavras também muda os factos”, não muda mas afinal trata-se de negacionismo estratégico, “em 2004, o eminente historiador americano e especialista em história do fascismo Robert O. Paxton publicou a sua notável obra The Anatomy of Fascism, onde sublinha que, no século XXI, nenhum fascista se designará a si próprio como tal”, portanto não o assumem agora tal como escondem os de outrora, não é atitude de gente livre, “a liberdade é a capacidade de um indivíduo se libertar da estupidez, do medo e do desejo, de utilizar a razão e de viver na verdade”, todas estas citações que tenho feito são de um livro que andei a ler, “O Eterno Retorno do Fascismo”, foi escrito pelo Rob Riemen e é uma edição de fevereiro de 2012 que parece sobre dezembro de 2020, “Paxton afirma que o fascismo, devido à sua angustiante falta de ideias e ausência de valores universais, assumirá sempre a forma e as cores do seu tempo e da sua cultura. Assim, o fascismo na América será religioso e contra os negros, ao passo que na Europa Ocidental será laico e contra o islão, na Europa do Leste católico ou ortodoxo e antissemita. A técnica usada é idêntica em toda a parte: um líder carismático, populista, para mobilizar as massas; o seu próprio grupo é sempre vítima (das crises, da elite ou dos estrangeiros); e o ressentimento orienta-se todo para um ‘inimigo’. O fascismo não necessita de um partido democrático cujos membros sejam individualmente responsáveis; necessita de um líder inspirador e autoritário ao qual se atribuem instintos superiores (as suas decisões não têm de ser justificadas), de um líder capaz de ser seguido e obedecido pelas massas. O contexto em que esta forma de política pode dominar é de uma sociedade de massas afectada pela crise que ainda não aprendeu as lições do século XX”, parece que não, há quem acredite que é possível moderar os vigentes ao trazê-los para responsabilidades governativas, eis outra história do século XX: “O facto de o fascismo ter chegado ao poder em Itália e na Alemanha deveu-se, em grande medida, à arrogância, bem como à cobardia e perfídia, das elites sociais. A arrogância, a sobrestimação do próprio poder, manifestou-se em 1932 quando, na Alemanha, o Bürgerliche Katholische Partei (partido católico) e o Deutschnationalen (partido nacionalista) se mostraram satisfeitos com a entrada no governo de Hitler e dos seus acólitos. Partiram do princípio de que, desse modo, o poderiam controlar e tirar partido dos erros que cometeria para o eliminarem politicamente. A cobardia e a perfídia manifestaram-se nos sociais-democratas alemães que, embora na oposição, lhe deram um voto de confiança por medo de perderem ainda mais votos. Na verdade, para todos os eleitores que não votaram em Hitler, e que foram a maioria, nenhum partido foi capaz de liderar a resistência contra o monopólio nacional-socialista. E isto teve tudo que ver com a deterioração das elites, que não tiveram coragem para defender os seus princípios e responsabilidades sociais”.

Na saída da autoestrada que me leva ao bairro onde vivo há dois cartazes políticos, são as minhas contrastantes mensagens de boas-vindas a casa, no primeiro o candidato presidencial do partido que acha que as Forças Armadas e o povo derrubaram o vigentismo em vez do fascismo diz que não tem medo do sistema, seja lá o que o sistema for, o segundo cartaz tem Francisco Sá Carneiro sorridente acompanhado de uma frase simples, “O meu sentimento? Define-se numa palavra: responsabilidade”, Sá Carneiro que considerava “essencial que os partidos, as pessoas, os movimentos, as associações assumam as suas responsabilidades e ponham de parte o clima de ataques demagógicos e irresponsáveis”, ele que acreditava que “a Constituição deverá consagrar os direitos fundamentais que aos portugueses foram negados durante o fascismo: liberdade de pensamento, de expressão, de reunião, de associação política e sindical, garantia da segurança pessoal, direito à educação, à saúde, à habitação”, repare como ele diz fascismo, o meu pai-padeiro viveu 34 anos disso e não de vigentismo, 34 anos é praticamente a idade que eu tenho sempre em liberdade de pensamento de expressão de reunião de associação política e sindical e com garantia da segurança pessoal e direito à educação à saúde à habitação, por isso: se o sistema é ter o que o senhor Bento não teve então eu admiro adoro amo extasio-me com o sistema, o sistema pode ter todos os defeitos mas há um que não tem, o sistema reconhece a diferença entre regime vigente e regime fascista, portanto: sou filho de feirantes mas também filho do sistema e às segundas terças quartas quintas sextas sábados e domingos quero usufruir da herança que o Movimento das Forças Armadas, coroando a longa resistência do povo português e interpretando os seus sentimentos profundos, me deixou ao derrubar o regime fascista - a liberdade, mas a liberdade verdadeira: “A 3 de outubro de 1940, Thomas Mann dá uma conferência no Claremont College, em Los Angeles, sobre ‘Guerra e democracia’. Já estava exilado há sete anos porque não conseguia viver na Alemanha hitleriana. Antes vivera mais de trinta anos em Munique, onde testemunhara o modo como o movimento fascista conseguira chegar ao poder graças, em parte, a um domínio total da falsidade: as palavras eram isoladas dos seus significados e reduzidas a meros slogans. Vira com os próprios olhos, primeiro nos cafés e nos salões, e depois nas ruas e nas concentrações, como o povo se deixara convencer da existência de um movimento político e de um líder que lhe convinha. Um homem pronto a dedicar a vida às necessidades, interesses e liberdade do homem comum, que exprimiria e defenderia os valores do povo alemão. E uma das razões que o levaram a acreditar nesse líder foi o facto de ele não pertencer à classe política, ao establishment, mas ser um autêntico homem do povo, que falava a sua linguagem. Com base nessa experiência, Thomas Mann adverte o público americano: ‘Permiti-me que vos diga a verdade: se um dia o fascismo chegar à América, chegará em nome da liberdade’”."

domingo, 22 de novembro de 2020

...


Reuters

"Quando os nazis vieram buscar os comunistas, 
fiquei em silêncio: eu não era comunista. 
Quando prenderam os sociais-democratas, fiquei em silêncio: eu não era social-democrata. 
Quando vieram buscar os sindicalistas, fiquei em silêncio: eu não era sindicalista. 
Quando vieram buscar os judeus, fiquei em silêncio; eu não era um judeu. 
Quando me vieram buscar, já não havia ninguém que pudesse protestar".

Martin Niemöller

segunda-feira, 9 de novembro de 2020

“I can’t breathe”_ Van Jones

AQUi:


“Não foi só George Floyd, foram muitas pessoas que sentiram que não podiam respirar”.

 
“Foi mais fácil ser pai esta manhã. É mais fácil ser pai. É mais fácil dizer aos teus filhos que o carácter importa”, começou por dizer enquanto a voz começava a embargar. “Importa! Dizer a verdade importa! Ser uma boa pessoa importa”.

“Pessoas que tinham medo de mostrar o seu racismo estavam a tornar-se cada vez mais maldosas para ti. E tu preocupas-te com os teus filhos e preocupas-te com a tua irmã. E já não podes ir ao Wallmart [hipermercado americano] e voltar ao teu carro sem que alguém lhe diga alguma coisa. E gastas tanta energia da tua vida só para te aguentares. E isto é importante para nós — apenas ter a possibilidade de alguma paz e uma oportunidade para começar de novo”.

in: "Observador"


One, two
Steal my heart and hold my tongue
I feel my time, my time has come
Let me in, unlock the door
I never felt this way before
And the wheels just keep on turning
The drummer begins to drum
I don't know which way I'm going
I don't know which way I've come
Hold my head inside your hands
I need someone who understands
I need someone, someone who hears
For you, I've waited all these years
For you I'd wait 'til kingdom come
Until my day, my day is done
And say you'll come and set me free
Just say you'll wait, you'll wait for me
In your tears and in your blood
In your fire and in your flood
I hear you laugh, I heard you sing
I wouldn't change a single thing
And the wheels just keep on turning
The drummers begin to drum
I don't know which way I'm going
I don't know what I'll become
For you I'd wait 'til kingdom come
Until my days, my days are done
And say you'll come and set me free
Just say you'll wait, you'll wait for me
Just say you'll wait, you'll wait for me
Just say you'll wait, you'll wait for me

quarta-feira, 4 de novembro de 2020

“O nome da rosa” _Opinião



Opinião
Carmo Afonso








“O nome da rosa”

02.11.2020 às 9h53
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https://expresso.pt/opiniao/2020-11-02-O-nome-da-rosa
Tivemos os Capitães de Abril que nos salvaram do fascismo e hoje novos capitães são precisos. Há jornalistas de investigação a estudar o Chega. Serão eles os novos capitães, os “William de Baskerville” de que dependemos?

Um homem estava em alto mar a nadar exausto. Era noite e estava frio. Não sabemos como foi ali parar. Não há nenhuma embarcação à vista, só escuridão e o som do movimento das vagas. O homem não tinha fé mas sabia que estava perdido. Rezou como último recurso. Gritou: “Meu Deus, salva-me!”

De imediato aproximou-se uma pequena embarcação com dois pescadores que lhe atiraram uma bóia. Foi salvo.

O homem não se esqueceu do pedido que havia feito a Deus mas, em vez de agradecer, novamente gritou:

“Hey, obrigado! Afinal não é preciso.”

Isto não é sobre intervenção divina, é sobre inconsciência. A este homem aconteceu um milagre e ele não o reconheceu. O “Vincent Vega” (John Tavolta) fez o mesmo e não lhe correu bem. Não vou falar outra vez do Pulp Fiction. Seria a terceira vez e poderia ser interpretado como uma fixação.

Agora já está?


Tá bem.

Falar de inconsciência a propósito do reconhecimento de um milagre é um paradoxo mas deve ser feito. Deve partir-se do pressuposto que um milagre aconteceu mas fazê-lo como exercício sem nunca perder de vista que é de um exercício que se trata. É importante admitir possibilidades e cenários, quanto mais extravagantes melhor, desde que não nos percamos no processo. É uma boa maneira de consolidar o que é certo. Agitar excessivamente a embalagem para depois o seu conteúdo assentar melhor.

Quero falar-vos de inconsciência e de trevas.

A humanidade tem a característica de entrar num movimento autodestrutivo ciclicamente. Não é por mal. É mais complexo que isso. A história mostra-nos que os períodos de trevas se repetem e que só são possíveis porque uma larga maioria da pessoas age tão inconscientemente como inconsciente foi o homem, que nadava em alto mar, no momento em que foi salvo. Há também uma pequena minoria que está plenamente consciente do que está a acontecer e que o deseja. E existe outra pequena minoria que está plenamente consciente do que está a acontecer e que tudo quer fazer para o evitar. No decurso do processo autodestrutivo é esta pequena minoria que mais sofre pois é tão difícil deter a outra pequena minoria como despertar a larga maioria que está inconsciente. No final, e quando não se consegue interromper o processo, morrem muitas pessoas mas dá-se o colapso civilizacional de onde tudo renasce.

Há vários períodos de trevas na história. São todos interessantes depois de terem acontecido mas tortuosos e sanguíneos para quem lá esteve. Grandes exemplos são a Idade Média, o período que antecedeu a Segunda Guerra Mundial e o do decurso da própria guerra e, em Portugal, o Estado Novo.

A este propósito lembro-me de um filme: “O nome da rosa”.


Hoje tinha de o fazer e, como uma peça no puzzle a que pertence, encaixa aqui.

Passa-se na Idade Média num mosteiro no norte de Itália. “William de Baskerville” (Sean Connery), é um monge franciscano e, com “Adso von Melk” (Christian Slater) - um noviço que o acompanha - visita o mosteiro com propósitos que se dissipam face à ocorrência de sucessivos assassinatos de monges. Sete monges em sete noites.

“William de Baskerville” repudia a teoria aceite e partilhada por todos os monges - a de que aqueles homicídios eram obra do Diabo – e dá início a um meticuloso processo de investigação. Acaba por desvendar a autoria dos homicídios: foi “Jorge de Burgos” (Feodor Chaliapin, Jr.), o monge mais velho do mosteiro. Desvenda também a causa: impedir a leitura da obra de Aristóteles que falava de comédia e de riso.

Apenas alguns monges tinham acesso à biblioteca. Os que se dedicaram a ler o livro de Aristóteles morreram envenenados porque humedeciam os dedos na língua para folhear páginas que continham veneno.

O autor dos crimes, na sua fuga, incendeia o mosteiro mas “William” e “Adso” conseguem salvar o livro.

Este foi o final feliz. Salvar o que estava criminosamente a ser censurado.


Fica o método racional, filosófico, lógico e detectivesco de “William”, que pôs em causa a interpretação dogmática e básica da realidade e fica também o seu humanismo, a compreensão da natureza humana, como mostrou a “Adso”, quando este se envolveu com uma rapariga pobre que se prostituía junto dos monges como contrapartida por uns pedaços de carne.

Há um outro aspecto magnífico no filme: é que todos os monges que morreram envenenados sabiam que estavam a transgredir quando liam o livro de Aristóteles e, mesmo assim, entregavam-se à tentação do conhecimento, à do riso e à da própria desobediência. Pecar numa biblioteca e não numa discoteca. A culpa vinha a seguir e o castigo afinal também veio. Pagaram um preço muito alto.

Os períodos de trevas continuam a assentar na cegueira e na inconsciência da maioria. Essas são algumas das condições necessárias para quem quer fazer vingar ideologias inimigas da humanidade. É o seu nome. Deve ser usado.

Este fim de semana tem-se falado, e até ao momento em que escrevo não foi contraditado, num possível entendimento entre o PSD, o CDS e o PPM para a governação nos Açores. Esse entendimento deverá ser alargado à Iniciativa Liberal, ao PAN e ao Chega. A disponibilidade do PSD para este acordo parece ser total e, não sendo ainda claras as exigências da Iniciativa Liberal e do PAN, a grande dificuldade parece partir do Chega que apresenta exigências difíceis de satisfazer. Sim, aparentemente o que nos separa de assistirmos ao primeiro entendimento entre o PSD – partido de Sá Carneiro que o definia como sendo de esquerda não marxista – e o primeiro partido fascista português com assento parlamentar, são as exigências de André Ventura.

Já agora: Essas exigências passam pelo apoio do PSD à revisão constitucional e o Chega estará disposto a abdicar de questões como a castração química, cenas da Idade Média. Muito bem.

Rui Rio tenta mostrar-se distante das negociações. Segundo o Expresso a posição do partido é que “O PSD/Açores tem autonomia e competência para definir a política regional e os procedimentos a seguir. A constituição ou não de um Governo Regional é da sua exclusiva competência.”


O PSD não perdeu só a vergonha, a coragem também se foi. Rui Rio, o político que tinha separado as águas do futebol das da política, quando foi presidente da Câmara Municipal do Porto, perdeu o tino com os fascistas. O desespero da direita é mau conselheiro.

As pessoas sensatas do PSD deverão estar em isolamento e sem acesso à internet pois não se fazem ouvir.

Colunistas banalizam coligações com o Chega clarificando que, como qualquer partido com assento parlamentar, tem legitimidade para se coligar. Muito bem.

Há aqui o recurso ao velho argumento “eu até tenho um amigo homossexual” quando se pretende defender uma posição homofóbica que também é de assinalar. Funciona exactamente com a mesma lógica mas no sentido inverso. Diz-se por exemplo: o André Ventura “é um oportunista que acredita em muito pouca coisa para além do seu próprio sucesso político” para a seguir se defender a sua legitimação. Muito bem.

O que aparenta ser uma ameaça para a esquerda – falo de um modelo de entendimento à direita que poderá ser replicado em futuras eleições – é o fim da credibilidade da direita. Esta convicção não será partilhada pela direcção do PSD nem pela maior parte do seu eleitorado. Admito que assim seja.

Mais, essa convicção não será partilhada pelos portugueses que se dizem moderados e que, com base nesse posicionamento, classificam de extremistas alguns partidos à esquerda, como o PCP e o BE, e à direita o Chega. Daqui partem para o raciocínio seguinte: ora, se o PS pode chegar a entendimentos com o PCP e o BE porque não poderá o PSD fazer o mesmo?


A memória falha muito. A consciência também. A moderação resulta do medo – uma espécie de resignação ao menos mau e de receio de que as coisas fiquem muito piores - mas é ela que nos põe em perigo. Esta moderação não deseja mas consente a entrada do Chega. É uma inconsciência que não identifica propaganda inimiga e que não estranha o que se passa à volta daquele grupo. Na verdade, sendo perigosa e já tendo a história mostrado onde pode chegar, a ideologia fascista não é o mais preocupante. O Chega não é só uma questão política, é uma organização com ligações perigosas que precisam de ser investigadas.

Não é o Diabo que ali está, são mesmo crimes.

Tivemos os Capitães de Abril que nos salvaram do fascismo e hoje novos capitães são precisos. Há jornalistas de investigação a estudar o Chega. Serão eles os novos capitães, os “William de Baskerville” de que dependemos? A consciência pode chegar antes de uma catástrofe e só a denúncia de factos objectivos servirá esse propósito.

Será justo que quem está cego e, sem saber, em apuros, reconheça o momento em que é necessário acordar e agradecer a quem lutou contra isto. Seria, em tudo, o contrário do que fez o homem que nadava em alto mar, que se apercebeu do perigo mas não do milagre que constituiu o seu salvamento.

Uma coisa é certa: os comentadores do costume não conseguem acordar as pessoas e os novos também não. As pessoas são à prova de comentadores. Estão cheias de razão. Porque continuam a ser grandes comentadores figuras comprometidas com os aspectos negativos do sistema e que a ele estão associadas até ao pescoço? Porque alinha a comunicação social na perpetuação do poder destas pessoas? Também isto não ajuda. Descredibilizam os bons, impedem o aparecimento de vozes independentes e mantem-se aquela ideia de que “no fim todos se entendem.”

Adiante.


É fundamental que também aqui se salve um livro importante, o que defende todos os valores que se conquistaram em Abril. O nome da rosa é uma expressão usada na Idade Média e que significa o infinito poder das palavras. O nome da rosa é agora a própria Constituição da República Portuguesa. Lembrar aqui as palavras de “William de Baskerville”, talvez a melhor personagem de Sean Connery: “When we consider a book, we mustn't ask ourselves what it says but what it means.”

Será um final feliz.

Farewell, Sir : )

domingo, 1 de novembro de 2020

Ilha do Corvo


 

REPORTAGEM:


Mar agitado 
a bater a sombra de 
asas nas escarpas
da ilha e 
um vento nascente a 
lembrar a solidão.

Entre o mundo velho e
o novo mundo
além
o vasto oceano
onde
este Corvo
de origem vulcânica
é temperado de emoção.

Aqui fica o meu olhar
preso à beleza do lugar.

sexta-feira, 30 de outubro de 2020

Covid_19 Alerta

 Aqui

Gustavo Carona, médico intensivista do Hospital Pedro Hispano, no Porto, e membro da organização Médicos Sem Fronteiras:
"Isto vai rebentar"

quarta-feira, 28 de outubro de 2020

O maravilhoso mundo das plantas






"Ouvi-lo – vai poder fazê-lo no VISÃO FEST – é mergulhar numa espécie de realidade paralela que os humanos ignoram. O professor associado da Universidade de Florença estuda como as plantas resolvem problemas, memorizam, comunicam e socializam, e obriga-nos a repensar muitas das nossas ideias feitas

VISÃO FEST15.10.2020 às 13h07



ANew Yorker considerou-o um dos “world changers” da década, foi vencedor do Prémio Galileu 2018 e os seus livros são best-sellers internacionais. Stefano Mancuso, professor associado da Universidade de Florença, é um dos maiores especialistas do mundo em neurobiologia vegetal. O que é isso? A ciência que estuda a inteligência das plantas. Se por esta altura estiver a revirar os olhos e a pensar – só faltava mais esta! –, não será o único. Os estudos de Mancuso abordam o que durante séculos era considerado impensável: a ideia de que as plantas têm habilidade cognitiva. Diferente da dos humanos e dos outros animais, é certo, mas não necessariamente inferior. Um trabalho com tanto de controverso, como de absolutamente fascinante.

Ouvi-lo – como vai poder fazer no VISÃO FEST, no próximo dia 24, sábado-, e ler os seus livros (a maior referência é a Revolução das Plantas, uma leitura deliciosa) é entrar num maravilhoso mundo vegetal até agora desconhecido. É preciso começar por perceber que as plantas são 85% da biomassa do planeta – todos os animais da Terra juntos representam apenas 0,3%. De um ponto de vista quantitativo, a vida neste planeta é verde. No entanto, a evolução fez crescer no Homem o que ele chama de “cegueira vegetal”.

A ideia de que, porque temos um cérebro muito desenvolvido, somos mais inteligentes e fortes do que todas as outras espécies – facto que ainda está para comprovar. A média de vida de uma espécie na Terra é de dois a cinco milhões de anos. O Homo sapiens viveu apenas 300 mil anos, escreve Mancuso. Já fomos capazes de quase destruir o nosso meio ambiente, como podemos dizer que somos espécies melhores ou mais avançadas?
Stefano Mancuso é professor na Universidade de Florença

Mancuso explica que as plantas são um modelo de modernidade. “Dos materiais à autonomia energética, da capacidade de resistência às estratégias de adaptação, desde os primórdios que as plantas fornecem as melhores soluções para a maioria dos problemas que afligem a Humanidade.” Como não se podem movimentar – e fugir do problema como os homens –, adaptam-se e encontram estratégias para resolver esses problemas.

“Com o intuito de ultrapassar os problemas relacionados com a predação, as plantas evoluíram por um caminho único e insólito, desenvolvendo soluções de tal modo distintas das dos animais. São organismos tão distintos que podiam ser extraterrestres: os animais deslocam-se, as plantas estão imóveis; os animais são velozes, as plantas são lentas; os animais consomem, as plantas produzem; os animais emitem CO2, as plantas fixam CO2… e assim por diante até à síntese concludente que se traduz em dispersão versus concentração. Qualquer função que nos animais esteja confiada a órgãos específicos, nas plantas está dispersa por todo o corpo. Trata-se de uma diferença fundamental, cujas consequências são difíceis de compreender inteiramente.”
Dois dos livros mais conhecidos do especialista em neurobiologia vegetal. Em Portugal são editados pela Pergaminho

Uma coisa é certa. A abordagem dos humanos nunca foi a de tentar ir longe neste entendimento, porque procuramos replicar a nossa forma de ser e ver o mundo, através das nossas funções humanas. “Na prática, o Homem procurou sempre replicar o essencial da organização animal na construção dos seus instrumentos. Tudo o que o Homem projeta tende a ter, de um modo mais ou menos evidente, esta arquitetura: um cérebro central que controla os órgãos que executam os seus comandos. Até as nossas sociedades estão construídas segundo este desenho arcaico, hierarquizado e centralizado.” Um modelo cuja única vantagem é fornecer respostas rápidas. Já as plantas, não possuindo um órgão equiparável a um cérebro central, conseguem percecionar o ambiente envolvente com uma sensibilidade superior à dos animais e respondem a esses estímulos de forma descentralizada e radicular, explica Mancuso.


Para saber mais
Stefano Mancuso: “Será preciso sobrevivermos mais 4 milhões e 700 mil anos para atingirmos a média de superioridade das outras espécies”
Superiores às plantas, nós? Este homem tem dúvidas e vem explicar porquê

“A complexa organização anatómica das plantas e as suas principais funcionalidades exigem um sistema sensorial muito desenvolvido que permita ao organismo explorar com eficiência o ambiente circundante e reagir com prontidão a acontecimentos potencialmente prejudiciais. Deste modo, a fim de utilizarem os recursos ambientais, as plantas recorrem entre outras coisas a um complexo sistema radicular formado por ápices em constante desenvolvimento, que exploram de um modo ativo o solo. Não é por acaso que a internet, o principal símbolo da modernidade, está construída como uma rede radicular”, sublinha.

É com este pressuposto que partimos com Mancuso, sem preconceitos, à descoberta de factos fascinantes. Coisas como a memória das plantas. Através da Mimosa pudica, uma planta cujas folhas se fecham quando é tocada ou abanada, percebemos que as plantas podem distinguir tipos de estímulos e memorizá-los até 40 dias. Como é que isso acontece em seres desprovidos de cérebro ainda é um mistério. Ou como dominam a arte da manipulação dos animais para as servir em seu bel-prazer, e propagar e fazer perdurar as espécies. Ou como conseguem ver sem olhos, à sua maneira, percecionar o ambiente e mimetizar o que têm à sua volta: uma trepadeira como a Boquilla trifoliata, consegue ter, ao mesmo tempo na mesma planta, três aspetos de folhas completamente diferentes porque copia e adapta-se, “camaleonicamente”, aos arbustos pelos quais trepa para se dissimular. Ou como se movem sem ter músculos, através de sistemas hidráulicos de transporte de água e vapor.

Garantimos – nunca mais vai olhar para as suas plantas da mesma forma.


Venha ouvir Stefano Mancuso no VISÃO FEST Verde no dia 24 de outubro, ou acompanhe por streaming. Saiba tudo sobre o VISÃO FEST Verde aqui. "

in: revista "Visão"




quinta-feira, 22 de outubro de 2020

plantas em extinção

 Há 381 plantas em risco de extinção em Portugal

Aphyllanthes monspeliensis. Foto: Paulo Ventura Araújo @SPBotânica

A primeira “Lista Vermelha” das plantas existentes em Portugal continental identifica 381 espécies que estão em risco de extinção.

De um total de 630 plantas que foram analisadas, 84 estão criticamente em perigo, 128 em perigo e 169 em situação vulnerável.

Das 110 plantas analisadas que só existem no nosso país, e em mais parte nenhuma do mundo, 53 estão ameaçadas.

Ana Francisco, bióloga e coordenadora executiva do projeto da “Lista Vermelha”, diz que o caso mais preocupante é uma planta endémica do Baixo Alentejo, associada a solos que foram modificados em consequência da Barragem de Alqueva e as zonas de regadios que surgiram.

André Carapeto, da Sociedade Portuguesa de Botânica, explica que na maior parte dos casos a principal ameaça é a “ação humana”, especialmente devido à “intensificação agrícola” e ao desenvolvimento urbano.

A primeira “Lista Vermelha da Flora Vascular de Portugal Continental” é uma iniciativa da Sociedade Portuguesa de Botânica, da Associação Portuguesa de Ciência da Vegetação – PHYTOS, e do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF). Podes ver mais aqui.



Texto: Agência Lusa com edição de Sandra Alves

sexta-feira, 16 de outubro de 2020

RR_Opinião de Graça Franco

 

Calamidade é a ditadura sanitária que aí vem

15 out, 2020• Opinião de Graça Franco


Não quero. Não tenho dinheiro para pagar 500 euros de multa diária, mas disso já não tenho medo. Venham as multas. As leis que nos envergonham não são para cumprir. Venderam-nos a ideia de que a aplicação Stayaway Covid era de instalação meramente voluntária. Tudo bem. Obrigatória não aceito.

Garanto que não tenho segredos a esconder. Os meus passos podem ser escrutinados. Só tenho medo do medo. Do medo, acreditem que eu tenho mesmo muito medo. Não quero ter um número escrito no braço. Não quero ter um chip na pele. Não temo ter um polícia, sem mandato, a entrar-me, pela casa dentro, para contar quantos comensais tenho à mesa (normalmente são sete, mas muitas vezes são onze entre pais, filhos e netos).

Jantar é um direito. Não vou abdicar dele, mas reconheço que já percebi, a minha sala não o permite. Não voltaremos a jantar ao mesmo tempo. Vamos jantar por turnos: cinco primeiro e cinco na ronda seguinte. Rotativamente, um vai comer na cozinha. Os senhores agentes estejam tranquilos, não precisam de nos visitar. Mesmo se derem por sinais de festa. Mas instalar aplicações não instalo.

Por outro lado, não me indignarei se ignorando a sabedoria popular (“a boda e a batizado não vás sem ser convidado!”) se aplicar uma exceção para os guardas. Não me custa que fiscalizem se, em vez do máximo de 50 convidados estão lá 100, o que, além de ilegal, constitui ameaça grave à saúde e felicidade dos noivos. Ninguém quer ver a família e amigos hospitalizados no regresso da lua de mel. Se o bom senso prevalecer nada a opor à visita das autoridades. Mas obrigar os convivas a instalar a aplicação é que já me parece “abuso de autoridade”.

Um Governo que gasta milhares de milhares de milhões na TAP e Novo Banco, e continua a não ter uma estratégia para evitar notícias como a desta quinta-feira (em Évora lar de idosos com 97 infetados!) É um Governo sem moralidade para ir gastar dinheiro a oferecer telemóveis aos portugueses desses que possam trazer a aplicação (mantenha a Covid longe…) já instalada. Mas, mesmo que tivessem essa ideia peregrina, eu não queria. E senão que igualdade é essa que impõe aos portugueses, com dinheiro e bons telemóveis, uma aplicação, e deixa os pobres sem essa “importantíssima” arma de defesa?

Não quero. Não tenho dinheiro para pagar 500 euros de multa diária, mas disso já não tenho medo. Venham as multas. As leis que nos envergonham não são para cumprir. Venderam-nos a ideia de que a dita aplicação era de instalação meramente voluntária. Tudo bem. Obrigatória não aceito. Além disso, não gosto que me mintam. Deixem-na como está. Quem quer descarrega-a. Quem não quer, não descarrega. Eu não quero. Falo por mim. Se outros acharem bem, usem-na. Não quero ficar com o ónus de contribuir para que não se salve a vida de alguém.

Não gosto de ter um detetor de “localização de contactos” em permanência comigo. Nem em contexto laboral, nem entre funcionários públicos, nem nas escolas e universidades, nem em contexto nenhum. Acho coisa de má memória. Tipo caderno dos agentes da PIDE. Polícia que também achava o comunismo (e outras ideias subversivas, como as da doutrina social da Igreja) perigosas “doenças contagiosas”, que urgia erradicar da sociedade. Aliás recorria ao internamento compulsivo e ao isolamento obrigatório dos “doentes” detetados ou dos seus contactos “suspeitos” não fossem também contraírem esses vírus. No mínimo, colocava-os em quarentena.

Se querem passar do estado de calamidade para o estado de emergência, passem. Se querem limitar direitos liberdades e garantias em nome da saúde pública. façam-no. Há coisas que é preciso assumir antes, para agir depois. A Democracia tem regras e não as podemos “suspender”. Acredito que até um presidente hipocondríaco não deixará de nos proteger desse passo em falso. É preciso ter vergonha. Eu sinto vergonha alheia. Por ações e omissões como esta.


Agradeço o cuidado, mas não quero. Nem que me ofereçam. Mesmo uma aplicação embrulhada num telemóvel de última geração. Não quero que o ofereçam aos meus filhos e netos. Será a ideia mesmo essa? Alguém teve a ideia de em vez de comprar Magalhães comprar telemóveis para distribuir, nas escolas, com a falsa desculpa de que está a proceder à “digitalização” do projeto “escola segura”? Quem sabe a União Europeia ainda vai pagar às grandes operadoras, parceiras em novo negócio. Brinco? Não sei. Já nada nos espanta. Em matéria de negociatas já vimos de tudo.

Perdoem se exorbito. Desculpem lançar a suspeição. Mas se há alunos pobres, sem telemóvel, ou com aqueles básicos onde não cabe a aplicação e ricos que tem aparelhos de última geração como os obrigar a todos a usar um equipamento idêntico? Ou será apenas mais uma forma de garantir que num país tão “webizado” uma app tão cara não passou de um “flop”?

Para mim é uma questão de coerência. Defendo que como já existe em muitos países as novas tecnologias fiquem à porta da sala de aula exceto quando servem para aprender e ensinar. O espaço de ensino é sagrado. Exige concentração. Os alunos não precisam de controle a tempo inteiro. Devem ser autónomos e responsáveis. Devem ter o telemóvel “q.b” segundo a respetiva idade e necessidade. O tempo de estudar não deve conflituar com o tempo para “jogar” e menos ainda aceito que devam passar a usar pulseira sanitária eletrónica.

Os jovens, em vez de andar de cabeça baixa, precisam de aprender a usar a cabeça para a manter erguida e os olhos para contemplar o mundo e não para os fixar no ecrã, sobretudo nas escolas.

Tente António Costa impor a obrigatoriedade de uso de uma aplicação, como esta, e eu retirarei as devidas consequências: já estaremos em Estado de Emergência porque caiu subitamente sobre nós a pior das calamidades: a perda da liberdade e o início da uma ditadura sanitária.

A história ensina-nos que todas começaram assim: com o embalo e a aprovação de um povo temente, reverente e sobretudo ignorante e obrigado pouco consciente dos seus direitos. Cheio de medo. É este o nome do vírus? Ou ainda estamos a falar do Covid?

Não podemos contemporizar com uma sociedade assim que coloca os seus velhos em “solitária” encerrados em celas de isolamento profilático, mesmo que a prisão seja domiciliária, sem contar com os que de entre eles se encontram já condenados a prisão perpétua , num corredor de morte em solidão, vendo o fim minado por extremo e inexplicável sofrimento, numa tortura que a sociedade tolera e contra a qual ninguém se indigna.

Para cúmulo uma sociedade com um Parlamento que tem a lata de ir debater a eutanásia na próxima semana, sem rebuço e sem vergonha de antes não debater as verbas orçamentais exigíveis para resolver um problema urgente que lhes devolveria a dignidade e a vida envolvendo muito menos dinheiro do que o Orçamento tem destinado ao Novo Banco e à TAP?

Vale a pena ler a última nota da Comissão Nacional Justiça e Paz sobre o que se espera dos políticos em relação aos lares de idoso (o texto divulgado esta quarta-feira) e já agora ler também a par da carta aberta dos ex-bastonários enviada à ministra da saúde. Boas leituras de fim-de-semana.

Só vão pelo caminho certo os que o escolhem e sabem para onde vão e também os que não sabem nem o caminho nem para onde querem ir. O Governo não tem dúvidas de que vai pelo caminho certo. A certeza vem-lhe de qual dos dois motivos?

COMENTÁRIOS
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  • OBSERVADOR
    16 OUT, 2020 PORTUGAL 07:28
    A aplicação em si, é praticamente inútil: mesmo que todos a tenham e tenham colocado os códigos - coisa que muitos não fazem com receio de serem marginalizados e não só - a app demora no minimo 15 minutos a assinalar a presença próxima de infetado. Se o tempo de proximidade for inferior, então nem assinala nada. Acrescente-se que partes do código nunca foram publicadas - o que querem esconder? - e há sempre atualizações que acrescentam "coisas"- isso de a privacidade estar assegurada tem muito que se lhe diga. Porquê então este frenesim de A.Costa? Fácil: o governo falhou no controle da pandemia, mas como isso não pode ser assumido, Então anda à procura de desculpas: os "culpados" serão os partidos que votarem contra, o presidente que vetou uma "sábia" medida do governo, o Tribunal Constitucional que afinal é uma "força de bloqueio", ou por fim a população que é anti-patriota e irresponsável. Assim o governo-PS sacode a água do capote e pelo meio arrecada algum em multas. O PSD do parolo do norte como parceirinho manso do bloco Central, já admite viabilizar esta intrusão, felizmente BE e PCP têm votos suficientes para pedir a fiscalização pelo Tribunal Constitucional.
  • JOSÉ J C CRUZ PINTO
    15 OUT, 2020 ILHAVO 17:26
    Que relação há entre a "má disposição" e o "partir de loiça" no artigo desta habitualmente serena senhora e a notícia: "O Governo quer tornar obrigatório o uso da aplicação stayaway covid em contexto laboral, escolar e académico para quem tem um telemóvel que permita aquela aplicação que permite rastrear casos de covid-19. De acordo com a proposta de lei enviada para o Parlamento e a que a Renascença teve acesso essa obrigatoriedade abrange em especial os funcionários públicos, os agentes de segurança e as forças armadas."? Muito pouca, ou mesmo nenhuma. Nunca lhe li tanto fel a barrar um artigo, ainda para mais extremamente mal escrito (tanta a desvairada fúria), e sem outro nexo que não seja a de deixar explodir desmedida contrariedade e irritação, tudo nele misturando, arremessando cacos em todas as direcções - até a eutanásia (apesar de - diga -se - poder ser este o único tema em que, isoladamente e sem as fúrias, alguma ou mesmo muita razão lhe consigo reconhecer. Pronto - desisto. Nunca mais lerei nem ouvirei esta senhora! É uma total perda de tempo e fonte de forte indisposição.
  • IVO PESTANA
    15 OUT, 2020 FUNCHAL 16:23
    Eu também não quero aplicações tontas, que nada resolvem. Infetados vai haver sempre. Venham mas , as vacinas.
  • PEDRO FONSECA
    15 OUT, 2020 BRAGA 14:39
    Por favor leia o FAQ da aplicação Stayaway antes de escrever tanta parvoíce. Obrigado.
 
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