sexta-feira, 27 de novembro de 2015

MÁRCIA - A INSATISFAÇÃO (vídeo oficial)



1º single do novo disco Quarto Crescente (Junho 2015)


A Insatisfação


Escrita fina
quando corre ensina
não dura um deserto que atravesse
Pode ir sendo
que demore um tempo
mais tarde ou mais cedo
lá me acerto

Na lembrança
o meu céu de criança
a quem nunca se entrega um tom cinzento
por momentos
vem num pensamento
e uma nuvem chove cá por dentro

Quase nada
(experimento o céu de negro que há de norte a sul
nunca me conforma
(prometo-me a mim mesma mais de céu azul)
a insatisfação
(temo que haja pouco pra me contentar)
nunca me abandona
(mas nada me impede de tentar)

Porque tento
andar atrás no tempo
e entender a chuva que acontece?
Como por magia
há sempre um novo dia
e outra Lua Nova que anoitece
Se a madrugada traz uma canção
pouco importa que me insista hoje em "dia não"
tomei o meu fastidio pra me atormentar
pedras no meu trilho são pra me assentar

Quase nada
(experimento o céu de negro que há de norte a sul
nunca me conforma
(prometo-me a mim mesma mais de céu azul)
a insatisfação
(temo que haja pouco pra me contentar)
nunca me abandona
(mas nada me impede de tentar)

Mesmo transformando em nosso o que era meu
se és a sorte do caminho que a vida escolheu
Canta que me afina, faz-nos avançar
premeia-me o destino por te ver dançar

Quando acordar do sono que eu escolhi
quero ter no meu cantinho sempre mais de ti
cada rosa, cada espinho que tanto cresceu
mesmo quando venham pra nublar-me o céu.


Quase nada
(experimento o céu de negro que há de norte a sul
nunca me conforma
(prometo-me a mim mesma mais de céu azul)
a insatisfação
(temo que haja pouco pra me contentar)
nunca me abandona
(mas nada me impede de tentar)



MÚSICA E LETRA - Márcia
Márcia - Voz, coros
Zé Kiko Moreira – Bateria
Dadi – Baixo, teclados e guitarra eléctrica
Filipe C. Monteiro – guitarra acústica e eléctrica.
Manuel Dordio – guitarra eléctrica
Márcia, Filipe C. Monteiro, Zé Pedro Leitão - palmas



ARGUMENTO E REALIZAÇÃO - Filipe Cunha Monteiro
PRODUÇÃO - Filipe Cunha Monteiro, António Marinho (Warner Music Portugal)
DIRECÇÃO DE FOTOGRAFIA - Ricardo Magalhães
CAMERAS - Ricardo Magalhães, Filipe Cunha Monteiro
MAKE UP - Sónia Pessoa, Márcia
EDIÇÃO E PÓS PRODUÇÃO - Filipe Cunha Monteiro

AGRADECIMENTOS:

SIC
Rodrigo Guedes de Carvalho
RTP
Eyeworks
Nuno Markl
Samuel Úria
Deolinda
Vasco Palmeirim
Augusta Babo
Joana Faria, Sérgio Pires e Maria Faria
Filipe Rebelo

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

vasco de lima couto_retrato



RETRATO

Fui só eu que estraguei as alvoradas
- presas suaves nos plúmbeos céus!,
e dei água aos ribeiros da minha alma
e fiz preces de amor e sangue, a Deus...

Fui só eu que, sabendo da tormenta
que o vento da nortada me dizia,
puz meus lábios no sonho incompleto
e rasguei o meu corpo na poesia.

Vieram dar-me abraços e contentes
viram que me afundava sem remédio
- nem um grito subia do horizonte
há mil anos deitado sobre o tédio!

Quando chamaram por mim do imenso rio
que a noite veste para se entreter
vi que os barcos andavam cheios de almas
buscando sonhos para não sofrer.

Cantavam doidas como a dor e a morte
parando, a espaços, para ver montanhas
e eram luzes mordidas pelas sombras,
corajosas, infelizes - mas tamanhas!

Eu fugi de as ouvir (que ardentes vozes...)
de navegar nas mesmas ansiedades
e fui sozinho semear as luas
e a natureza inculta das idades.

Parti, negando à vida o seu direito,
recalcando os meus sonhos e os meus medos...

sei agora que matei o meu destino
e quebrei o futuro nos meus dedos.

Vasco de Lima Couto,
in: "Os Olhos e o Silêncio" - 1952